Ele vem “Yeshua”

Por que Maria é estritamente ligada a Cristo?

Os dogmas de Maria nos levam a Cristo

O Concílio Vaticano II (1962-1965), considerado como o evento mais importante da Igreja no século XX, num dos seus documentos mais significativos, mostra a estreita ligação de Maria a seu Filho Jesus nestes termos: “Pensando nela com devoção, a Igreja penetra mais profundamente no mistério da encarnação e se conforma sempre mais ao seu esposo” (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 65). Em outras palavras, a correta devoção a Nossa Senhora nos aproxima mais de Cristo. Vamos ver como isso acontece.

Os dogmas marianos mostram que Cristo é verdadeiro Deus e homem (Dogma da Maternidade Divina de Maria); apontam para a necessidade de encontrar em Cristo a libertação do pecado (Dogma da Imaculada Conceição); garantem a tensão escatológica, quer dizer que estamos caminhando para a ressurreição final (Dogma da Assunção de Maria); e confirmam a fé em Deus Criador, que intervém livremente na matéria (Dogma da Virgindade de Maria).
Ressalta-se a primeira afirmação: para mostrar que Jesus era, ao mesmo tempo, Deus e homem, o Pontífice, “aquele que faz a ponte” entre Deus e o homem, a “fórmula” mais fácil foi afirmar que Maria é a Mãe de Deus. No fundo, este dogma mariano foi mais um dogma cristológico. Aqui, podemos entender que Maria nos leva a Cristo: este, pois, foi o “caminho” que Deus escolheu para nós, como diz o Credo do Concílio de Niceia (ano de 325): “Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem”.

Há, no entanto, uma outra interessante consideração sobre o lugar de Maria na Igreja. A devoção a Maria manifesta a necessária integração entre Bíblia e Tradição: pois esses quatro dogmas têm fundamento na Escritura, como semente que cresce na tradição (liturgia, intuição do povo crente, reflexão teológica sob a guia do Magistério). Falou-se disso, acima, particularmente com referência aos dogmas da Imaculada e da Assunção. Então, na sua pessoa de moça judia, mãe do Messias, Maria liga Antigo e Novo Testamento: sem essa junção, a fé vai demais para o Antigo Testamento ou se limita no Novo Testamento. Quanto ao Antigo Testamento, eis, por exemplo, o anjo Gabriel anunciando a Maria que “o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará para sempre na casa de Jacó. E seu reino não terá fim” (1,32-33). O mesmo evangelista relata o cântico do Magnificat, em que Maria fala do cumprimento das promessas de Deus “a Abraão e seus filhos” (1,55). E quanto ao Novo Testamento, nas bodas de Caná, o evangelista João nos apresenta uma significativa atuação de Maria que leva os discípulos a “crerem nele” (2,11).

Maria modelo da Igreja

O Concílio Vaticano II apresenta Maria como modelo perfeitíssimo na fé e na caridade” (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 53). Olhando para esse modelo, a Igreja se preserva daquele modelo machista, que a reduz a uma ação sócio-política, a uma abstração. E quando vira abstração, não precisa de uma mãe. Ela mostra “o rosto materno de Deus”, garantindo a convivência da indispensável “razão” com as indispensáveis “razões do coração”.

É interessante verificar que nenhum outro cristão, exceto Maria, é considerado como “modelo perfeitíssimo da Igreja”. Esse modelo nos leva necessariamente a seu Filho, Jesus Cristo.

A profunda ligação entre Cristo e Maria nos foi lembrada, a título de exemplo, numa homilia do Papa Francisco, proferida no dia 1º de janeiro de 2015. Eis as suas palavras: “Cristo e sua Mãe são inseparáveis: há entre ambos uma relação estreitíssima, como aliás entre cada filho e sua mãe. Tal inseparabilidade é significada também pelo fato de Maria, escolhida para ser Mãe do Redentor, ter compartilhado intimamente toda a sua missão, permanecendo junto do Filho até ao fim no calvário”. Mas o “momento forte”, ou “kairos”, no qual nós cristãos entendemos e alimentamos nossa fé Naquele que nasceu da Virgem Maria é a Liturgia, ou seja, a oração pública da Igreja. Essa oração, pois, expressa e alimenta a nossa fé.

A lei da oração é a lei da fé

Há um princípio muito importante a ser seguido no caminho da nossa fé, expresso pelo princípio Lex orandi, lex credendi, a saber, “A lei da oração é a lei da fé”. Isso significa que a oração expressa a nossa fé.

Tal princípio se aplica particularmente na oração pública da Igreja: a Liturgia. A palavra “Liturgia” vem do grego “leiton ergon” e significa “ao pé da letra”, “obra pública”. Para nós, refere-se à oração pública e oficial da Igreja. A “Liturgia” é definida pelo Concílio Vaticano II como “o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo” e “obra de Cristo Sacerdote e do Seu corpo, que é a Igreja” (Documento sobre a Liturgia, Sacrossanctum Concilium, n. 7).

A Liturgia se expressa, de maneira eminente, na celebração da Eucaristia, que é “fonte e cume de toda a vida cristã” (Documento do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium, n. 11).

A partir disso, podemos afirmar que, quando participamos da Celebração Eucarística, vamos entender, expressar e aprofundar a nossa fé. No fundo, a Liturgia é a grande escola da fé do povo cristão. Nessa “escola”, precisamos aprender a ser “bons alunos”. Isso, pois, significa que, para entendermos o lugar de Maria na vida cristã, é fundamental partir das celebrações da Igreja que faz solene memória da mãe de Cristo.

O lugar de Maria na vida cristã a partir da Liturgia

As três celebrações marianas mais importantes do ano litúrgico apontam para os quatro dogmas marianos: Maria Mãe de Deus, sempre Virgem (1º de janeiro); Imaculada Conceição (8 de dezembro) e Assunção (15 de agosto).

A Igreja definiu estas quatro verdades sobre Nossa Senhora, a saber:
– Maternidade Divina de Maria. Foi definida no Concílio de Éfeso (ano 431).
– Virgindade Perpétua de Maria. Foi definida no II Concílio de Constantinopla (ano 553).
– Imaculada Conceição de Maria. Foi definida pelo Papa Pio IX na Bula Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854).
– Assunção de Maria. Foi definida pelo Papa Pio XII na Bula Munificentissimus Deus (1º de novembro de 1950).

Essas verdades são expressas na Liturgia. A título de exemplo, podem-se considerar algumas orações da Solenidade de “Maria Mãe de Deus”.

No dia 1º de Janeiro, Solenidade de Maria Mãe de Deus, a Igreja proclama, ao mesmo tempo, a Maternidade Divina de Maria e sua Virgindade Perpétua.

Eis, pois, como expressar isso:

a) Na Coleta: “Ó Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação eterna, dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o Autor da vida”.

b) Na Oração sobre as oferendas: “Ó Deus, que levais à perfeição os Vossos dons, concedei aos Vossos filhos, na festa da Mãe de Deus, que, alegrando-se com as primícias da Vossa graça, possam alcançar a sua plenitude”.

c) No Prefácio: “Na verdade, ó Pai, Deus Eterno e Todo-poderoso, é nosso dever dar-Vos graças, é nossa salvação dar-Vos glória, em todo tempo e lugar, e na Maternidade de Maria, sempre Virgem, celebrar os vossos louvores”.

d) Oração depois da Comunhão: Ó Deus de bondade, cheios de júbilo, recebemos os sacramentos celestes; concedei que eles nos conduzam à vida eterna, a nós que proclamamos a Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja.

As partes grifadas dessas orações apontam para a fé da Igreja na Maternidade Divina e na Virgindade Perpétua de Nossa Senhora. Esse mesmo “exercício” pode ser feito para as outras solenidades marianas; e, no fundo, para cada celebração cristã.

O sentido da fé dos fiéis e os dogmas marianos

Voltando ao princípio – “a lei da oração é a lei da fé” –, pode-se observar que as definições dos Concílios, ou dos Papas acima indicadas, são todas posteriores à fé do povo.

No mês de junho de 2014, a Comissão Teológica Internacional publicou um interessante documento intitulado Sensus fidelium, que significa o sentido dos fiéis. Eis como o define:

“O sensus fidei fidelis [sentido da fé dos fiéis] é uma espécie de instinto espiritual que capacita o crente a julgar espontaneamente se um ensino ou prática particular está ou não em conformidade com o Evangelho e com a fé apostólica.” (N. 49).

Essa afirmação tem uma significativa confirmação quanto à fé da Igreja sobre Maria. A título de exemplo, os dogmas da Imaculada e da Assunção foram definidos recentemente, como foi visto acima: mas o povo de Deus celebrava, fazia séculos, a Imaculada Conceição e a Assunção de Maria: e, particularmente, na Liturgia. Em outras palavras, já havia as festas da Imaculada Conceição e de Nossa Senhora da Glória.

É interessante lembrar, a esse respeito, o que Jesus disse aos Seus discípulos na última ceia: “Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade completa” (João 16,12-13). Nesse sentido, os apóstolos não receberam uma “revelação completa” de Jesus. O Espírito, dom do Cristo Ressuscitado, “sopra” sobre o povo de Deus, a Igreja, e a leva, aos poucos “à verdade completa”. Nesta “caminhada da fé”, guiados pelo Espírito, entendemos sempre mais quem é Cristo e todos os que a Ele pertencem, a partir da Sua Mãe.
Lino Rampazzo

Doutor em Teologia pela Pontificia Università Lateranense (Roma), Lino Rampazzo é professor e pesquisador no Programa de Mestrado em Direito do Centro Unisal – U.E. de Lorena (SP) – e coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).

O segredo de Maria nos aprofunda no amor de Deus

O segredo de Maria de nada nos serviria se não o conseguíssemos transpor para nossa vida

Para que uma pessoa exponha seus segredos, é necessário haver certo grau de intimidade com outra. Mesmo que haja laços de parentesco entre elas, é necessário haver intimidade. Assim também acontece entre mãe e filho. Ao pedirmos que Nossa Senhora nos revele, exponha os seus segredos, faz-se necessário que nos coloquemos de pés descalços ou, porque não, de joelhos, como quem pede: “Revela-nos, mostra-nos teu coração!” Só assim estaremos aptos a receber, ou melhor, compartilhar do seu segredo.

Segredo de Maria

Esvaziemo-nos. Façamos silêncio. Aquele silêncio que pairava no mundo em suas origens e que pairou no ventre de Maria. Façamos silêncio. Falemos com nossa alma: Silencia alma minha! Cala ruído de minhas vontades! Silêncio, mundo que me atrai! Alguém que amo vai me contar um precioso segredo. Este, se não mudar o mundo, com certeza mudará o meu mundo, se eu permitir. Mãe, conta-me teu segredo.

É no abismo do bem querer de Deus que começa o segredo de Maria. O que isso significa? Nosso ponto de partida encontra-se no relato do anúncio do Anjo Gabriel (Lc 1,26-38). Nessa passagem, percebemos que a iniciativa da oração sempre parte de Deus. Ele é, de certo modo, o mendigo de Amor, pois se encontra a bater à porta de nosso coração. Em uma constante atitude de espera, de súplica, está sempre pronto a ir ao nosso encontro e convidar-nos para o banquete. Não importa o estado em que nossa alma se encontra nem por quais caminhos tortuosos tenhamos andado. Ele está sempre a nos esperar, disposto a nos enlaçar em seu abraço de Pai.

Ternura do amor de Deus

O segredo de Maria consiste em deixar-se constantemente abraçar e em ser alcançada por esse amor. Consiste, ainda, em permitir que as torrentes da infinita ternura de Deus a surpreenda, como em inúmeras vezes na sua história. Por isso, as gerações a conhecem como a Bem-amada, Bem-aventurada, a Imaculada Maria.

Precisamos redescobrir em nós, em nossa vida, que somos bem amados. A verdadeira oração consiste em, antes mesmo de amar, sentirmo-nos amados. Mais que sentir, sabermos-nos amados, reconhecermo-nos amados. Na Primeira Carta de São João (I Jo 4, 10) está escrito: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos o seu Filho”. A experiência inicial e incondicional para qualquer chamado autêntico e essencial é a de ser amado. Sou amado e por isso respondo com amor.

Ao mergulharmos ainda mais no segredo de Maria, a profundidade a que chegaremos somente o Espírito Santo poderá medir. Pensemos que outra característica da iniciativa divina é a liberdade. Deus escolhe quem quer. Ele é livre, ama sendo livre e liberta, porque ama. Nesse âmbito, olhemos para a Imaculada Conceição.

Deus quis fazer Maria sem mancha de pecado, porque Ele é livre. Esse amor a libertou uma vez e para sempre, tornou-a sem mancha, purificou-a e a fez participante por primeiro dos méritos de Seu Filho. Eis que Seu amor profundo cria a Arca da Nova Aliança. Quis deixar-nos marcados não mais pela lembrança daquela humanidade que desejou ser como Deus, e sim, pela mulher que soube encantá-Lo ao se fazer escrava para fazer a vontade do Pai e se tornar a mãe de Salvador. Esse mesmo Deus, em sua liberdade, escolheu você para ser filho de Maria, para ser seu bem amado!

Transpor as dificuldades

O segredo de Maria de nada nos serviria se não o conseguíssemos transpor para nossa vida. Podemos encontrar a presença do amor de Deus nos acontecimentos simples do dia a dia, seja ao receber uma palavra de conforto de um irmão ou a sua oração por nós. São pequenos mimos de um Deus que ama. Muitas vezes, isso acontece não só naquilo que nós desejamos, mas em coisas que nós nem sabíamos que precisávamos. Acontece em dificuldades por vezes nem conhecidas ou em realidades que já conhecemos, mas diante das quais não teríamos coragem de seguir em frente devido às renúncias que nos seriam exigidas. É preciso amar muito para renunciar, para aceitar a correção e para ter a coragem de corrigir, de educar a alma. Deus nos envia provações, porque nos ama.

Às vezes, estamos esperando espetáculos do Senhor. Maria sabia o segredo: Deus é maravilhoso, não mágico. É poderoso, não é fantasia. Ele se revela em gestos constantes de amor, presentes e inesperados. A vontade de recomeçar que temos é Deus amando! É como o amanhecer que renasce todos os dias! Não importa o tamanho da dificuldade que temos em rezar, Deus está nos amando de novo. Eu sou seu bem-amado, sua bem-amada. Ele está tomando a iniciativa. É o silencio da luz que ressurge rompendo as trevas, não importando o quanto dure a noite.
Érika Vilela

Mineira de Montes Claros (MG), Érika Vilela é fundadora e moderadora geral da comunidade ‘Filhos de Maria’. Cursou Medicina pelas Faculdades Unidas do Norte de Minas e especialista em psiquiatria pelo Instituto de ciências da Saúde, e em Dependência Química pela UNIFESP.

Érika atua como pregadora, articulista, missionária pela Casa Mãe de Misericórdia e médica na Estratégia Saúde da Família e na Clínica Home-Med. Evangelizadora com fé e ciência, duas asas que nos elevam para o céu, ela tem a bela missão de encontrar, na união mística com a dor salvífica de Cristo, a força para seguir em frente, sabendo que Deus opera sempre as Suas maravilhas!

Como cristãos, somos chamados a viver a ética em tudo

Os desafios de viver a ética na sociedade de hoje

Dentre as características que nos identificam como seres humanos, destaca-se a necessidade de estarmos em sociedade, em grupos que se assemelham e diferenciam de modo a promover o enriquecimento das percepções de mundo e da existência. Essas relações possibilitam encontros e desencontros, semelhanças e diferenças, evidenciam a necessidade de desenvolvermos habilidades para esse coexistir, ou seja, um padrão comportamental, uma postura moral e ética.

Enquanto a moral vincula-se ao conjunto de normatizações e regras propostas por uma sociedade, dentro de uma cultura, e portanto situada em um recorte histórico, a ética diz respeito a como cada indivíduo, dentro de sua liberdade interior, decidirá pelo rumo de suas ações.

Foto: olaser

Nesta conjuntura, há ainda um terceiro aspecto que devemos trazer ao centro de nossa reflexão, devido à sua importância e relevância, no labor da compreensão que nos propomos fazer: o senso comum. É ele o responsável pela justificação pública ou interior de deliberações amorais ou antiéticas. Ele está presente quando a fim de justificar um ato ilícito, o indivíduo arroga: “Mas todo mundo faz”; ou ainda “se não for eu será outro”; e a mais nociva de todas: “é meu direito”.

Desafio diário e contínuo

Assim é notória a percepção de como o comportamento ético é exigente, pois se dá por meio de um contínuo e diário “remar contra a maré”. Ele consiste em uma firmeza de posição, em uma fidelidade aos princípios assumidos como basilares, por maior que possam vir a ser as circunstâncias e adversidades do momento.

A ação ética se evidencia sempre em relação ao outro. Nesse sentido, é possível compreender o quão desafiante essa postura pode ser no nosso tempo, tão fortemente marcado pelo individualismo, pelo egoísmo e hedonismo.

Quando sou capaz, em detrimento de possíveis vantagens pessoais de agir em prol do outro, levando o seu bem-estar em consideração, há uma manifestação de um comportamento ético, que se estabelece para além das conveniências.

Ser ético nas pequenas coisas

Desejamos ver o nascer do sol, mas queremos evitar a noite. Ansiamos pelo cume da montanha, mas rejeitamos a subida. Queremos subir ao pódio, mas sem enfrentar as agruras dos treinamentos. Desejamos uma vida cheia de sentido e significado sem, no entanto, estarmos dispostos às renúncias e superações que são próprias.

Um viver ético nos viabiliza uma coerência no existir. Aos olhos dos demais, o comportamento regido pela ética parece carecer de liberdade, mas isso é um grande engano, pois a liberdade sem a ética é falsa e parcial, na medida em que é danosa à liberdade dos outros.

Como cristãos, somos chamados a viver a ética em tudo, principalmente nas pequenas coisas. A partir desses pequenos passos, seremos capazes de trilharmos longos caminhos. Não que atingiremos a perfeição, mas, se assim procedermos, seguiremos os passos do Senhor, e com cada gota de nossas ações, a água viva da bondade, da justiça, do bem poderá chegar a mais e mais pessoas, tão ressequidas bela brutalidade de nosso tempo.
Christian Moreira

Christian Moreira é missionário da Comunidade Canção Nova, no modo segundo elo em em Fortaleza (CE). Graduado em História, Mestre em Ciências da Educação e Especialista em Ensino Superior de História e Especialista em Gestão Escolar.

Entenda a corrupção com base nas palavras do Papa Francisco

Corrupção não é pecado

Corrupção é consequência da repetição de pecados, o que limita a capacidade de amar. Nas rodas de conversa, é só puxar o assunto que o papo rende. Em tempos de Lava-Jato, operação da Polícia Federal – que já completa três anos –, tornou-se habitual associar corrupção às estruturas políticas. Porém, o objetivo deste texto é ampliar a visão desse tema que, infelizmente, atinge todas as áreas. Inclusive, há corrupção dentro de nós, em nossa casa, comunidade e igreja.

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Em 2005, o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, escreveu um livro intitulado ‘Corrupção e Pecado’, o qual nos ajuda nessa reflexão tão importante e atual. Embora seja um ato intrinsecamente ligado ao pecado, distingue-se dele em algumas coisas. Pecado reiterativo conduz à corrupção. Não é a repetição de pecados que provocam um corrupto, mas os hábitos de má qualidade que vão deteriorando e limitando a capacidade de amar. O coração vai se encolhendo, perdendo os horizontes, e o egoísmo passa a ser sua maior referência.

Processo de morte

Ações corruptas levam pessoas e instituições a um processo de decomposição. Perde-se a capacidade de ser, crescer e servir. É um verdadeiro processo de morte. A vida morre, fica a corrupção. É como uma folhagem que se desenvolve, alimentada pelo húmus da fraqueza humana e da cumplicidade.

Pecadores sim, corruptos não!

Geralmente, relacionamos corrupção ao pecado, mas não é bem assim. “Situação de pecado e estado de corrupção são duas realidades diferentes, embora intimamente entrelaçadas”, explica Bergoglio. Isso não significa que a corrupção faça parte da vida normal da sociedade. Tais atos devem ser denunciados e combatidos. Pecado se perdoa. Corrupção não pode ser perdoada. Diante do Deus que não se cansa de perdoar, a autossuficiência do corrupto vira um bloqueio, que o impede de pedir perdão.

Deus aceita o pecador

“Pecador sim!” Como é lindo reconhecer-se pecador e poder sentir a misericórdia do Pai das Misericórdias, que nos acolhe a todo momento! Mas como é difícil para um coração corrupto deixar-se alcançar pelo vigor profético do Evangelho!

“Quem não rouba é trouxa”, diz o ‘cara de vaso’”. A autossuficiência é um escudo que isola e não permite questionamentos. Defende que “quem não rouba é trouxa”. Francisco afirma que “o corrupto construiu uma autoestima baseada justamente nesse tipo de atitudes enganosas, caminha pela vida pelos atalhos do vantajoso a preço de sua própria dignidade e a dos outros”. E o pior, esconde-se em uma cara de inocente.

Sintomas da corrupção

O corrupto adquiriu características de verme: tem medo da luz, vive nas trevas, debaixo da terra. Diante de críticas, enfurece-se, desqualifica pessoas ou instituições que o criticam. Procura aniquilar toda autoridade moral que o possa questionar. Usa de todo tipo de argumento para se justificar. Desvaloriza os outros e insulta quem pensa diferente dele. De maneira inconsciente, persegue-se, projetando-se nos outros, tornando-se perseguidor. Assim como quem tem mal hálito, o corrupto não percebe sua corrupção. Os outros que o sentem é que têm de lhe dizer.

A corrupção tem cheiro de podre. “Quando alguma coisa começa a cheirar mal, é porque existe um coração preso sob pressão entre sua própria autossuficiência imanente e a incapacidade real de bastar a si mesmo; há um coração podre por conta da excessiva adesão a um tesouro que o aprisionou”, afirma.

No Evangelho, o corrupto faz armadilhas para Jesus (cf. Jo 8, 1-11; Mt 22, 15-22; Lc 20, 1-8), cria intrigas para tirá-lo do caminho (Jo 11, 45-57; Mt 12, 14), suborna quem tem capacidade de trair (Mt 26, 14-16).

Consequências

A corrupção tende a asfixiar a força da Palavra de Deus. Pode levar ao desmoronamento pessoal ou social.

O remédio

O remédio para essa doença é o Evangelho. A verdade de Cristo é a força para sacudir a alma, ensinar a discernir os estados de corrupção que nos circundam com ameaças e seduções. Por isso, é preciso declarar com força e temor: “pecador sim, corrupto não”.

O estado de corrupção não pode ser aceito como mais um pecado. Corrupção é consequência de um coração corrupto. “O coração não é uma última instância do homem, fechada em si mesma”, esclarece o Papa. Ele orienta ainda que o coração humano é coração na medida em que é capaz de amar ou negar o amor (odiar).

Onde está o teu tesouro?

“Porque onde está teu tesouro, lá também estará o teu coração” (Mt 6,21). Francisco indica conhecer o tesouro que está no coração, portanto, a referência para a sua vida. O tesouro que está no coração liberta e plenifica, destrói e escraviza; neste último caso, o tesouro que o corrompe. Como o corrupto vive anestesiado, Deus o salva por meio de provações que lhe cabe viver como doenças, perdas de fortuna e de entes queridos. Essas quebras da estrutura corrupta permitem a entrada da graça e a cura.

Rodrigo Luiz dos Santos
Editor-chefe de Jornalismo da TV Canção Nova e apresentador. Missionário na Canção Nova é casado com Adelita Stoebel e pai de Tobias, estudou Filosofia e formou-se em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova.

Em Roma, delegação portuguesa comemora canonização dos pastorinhos

Cardeal Ângelo Amato presidiu a celebração de ação de graças na Basílica de São Pedro, em Roma

Da redação, com Agência Ecclesia

Delegação portuguesa em celebração em ação de graças pela canonização dos pastorinhos./ Foto: Ecclesia

Um conjunto de celebrações assinalou este sábado, 20, em Roma, a canonização de Francisco e Jacinta Marto, pastorinhos de Fátima, com a presença de uma delegação portuguesa.

Uma semana após a canonização na Cova da Iria, a Basílica de São Pedro acolheu uma celebração presidida pelo cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação das Causas dos Santos (Santa Sé).

“A santidade não tem idade, a Luz de Deus manifesta-se nos pequenos e grandes, e por isso a santidade dos pequenos não deve surpreender, é uma manifestação celeste”, disse o responsável da Santa Sé, numa intervenção citada pelo Santuário de Fátima.

O cardeal italiano disse que a santidade de Francisco e Jacinta Marto “mostra a simplicidade dos inocentes”, recordando que “Fátima tem uma mensagem de salvação para o mundo”.

Já de tarde, Aula Magna da Pontifícia Universidade Gregoriana recebeu uma conferência sobre a espiritualidade dos novos santos portugueses.

D. António Marto, que encerrou o evento, assinalou que “Francisco e Jacinta Marto são os primeiros destinatários da mensagem de Fátima e assim colaboradores de Deus na sua mensagem de misericórdia”.

O bispo de Leiria-Fátima confessou estar de “coração em festa” ao recordar o “valor da vida invisível de Francisco e Jacinta, que não eram famosos, nem tinham acesso a redes sociais, viviam no silêncio a experiência da fé”.

O programa comemorativo encerrou-se à noite, com um concerto de Giampaolo di Rosa na Igreja de Santo António dos Portugueses.