Quantas e quantas mulheres vivem este drama!
Embora haja também mulheres que abandonem os seus esposos, no entanto, a grande maioria dos casos é de maridos que abandonam as suas esposas; muitas vezes; depois de uma traição consumada e assumida. Quantas e quantas mulheres vivem este drama! Desde as recém-casadas até aquelas que já estavam casadas há mais de trinta anos. E este deve ser o primeiro consolo para quem vive esta amarga situação: você não está sozinha nesta dor, há uma multidão à sua frente e ao seu lado, derramando as mesmas lágrimas.
Pode haver muitas causas para essas separações, mas estou convencido de que a mais freqüente delas é a falta de uma vivência religiosa profunda por parte de muitos homens. Infelizmente, para muitos deles, a vida consiste em trabalhar, e depois, nas horas vagas, divertir-se, beber com os amigos e desfrutar dos prazeres da vida. No meio de tudo isso, a falta de espiritualidade permite a entrada da imoralidade sexual, o acesso a fitas de vídeo pornográficas, os olhares maliciosos para outras mulheres, o deleite no convívio de outras … Até que um dia, ele é “fisgado” por alguém que não é sua esposa, mas que lhe mostra mais atração, “mais amor”, menos idade, que lhe dá “menos aborrecimento”, e mais prazer. E sem o auxílio da graça de Deus, ele começa a descer a ladeira da permissividade moral, até deixar a verdadeira esposa. Sem Deus, não há castidade, não há paciência, não há tolerância… e não há verdadeiro amor como São Paulo pediu aos homens: “Maridos, amai as vossas esposas, como Cristo amou a Igreja, e se entregou por ela.” (Ef 5,25). “E se entregou por ela…”
É verdade que em certos casos a esposa traída ou abandonada também possa ter cooperado com a separação: pode ter faltado mais atenção ao marido, ou mais cuidado com o lar e com os filhos, talvez tenha faltado mais zelo consigo mesma, pode ter havido muita reclamação e lamúria da parte dela, ou ainda pode ter faltado mais esforço para uma vida sexual mais harmoniosa, entre outros fatores. Mas nada disso justifica uma traição e a destruição de um lar.
Mas, e agora, o que fazer?
Em primeiro lugar, há que se ter o desejo de restaurar o próprio casamento; esse homem que se foi é seu marido, você tem direito moral sobre ele. Por esta razão, você deve lutar para reconquistá-lo com todos os meios legítimos. Nem sempre é fácil, mas sabemos que para Deus nada é impossível (cf. Lucas 1:37), assim como disse o Anjo a Virgem Maria. Então, é começar a rezar e a agir. E antes de tudo: confiar na misericórdia de Deus, não ter pressa, não marcar hora para ele voltar; há que se dar tempo para a graça de Deus agir. Ela precisa de tempo porque respeita a liberdade dele; mas age. Quantos maridos já voltaram para o lar, depois de uma aventura de “filho pródigo”! Às vezes, é preciso esperar anos para que ele volte; assim como o filho pródigo (cf. Lucas 15:11-32). Pode ser que ele comece a pensar em voltar quando a saudade do verdadeiro lar começar a pesar, ou quando uma doença fizer o “mundo dos encantos” desabar diante dele, ou talvez quando a ruína financeira o atingir… Não sei, mas sei que Deus é o maior especialista em tirar o bem do mal.
Por isso, você, mulher abandonada, não pode tirar os seus joelhos do chão. “Orar sem cessar sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18,1b) é a ordem de Jesus. Pois “Pedi e receberei, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á” (Lc 11,9). Deus estabeleceu uma lei: ninguém recebe a graça d’Ele sem lhe pedir. Então peça, derrame suas lágrimas diante d’Ele no Santíssimo Sacramento. Não foi assim que a perseverante santa Mônica conseguiu, – depois de vinte anos –, a conversão do seu querido filho Santo Agostinho. Ele disse em seu livro “Confissões”, que as lágrimas que sua mãe derramava diante de Deus era o sangue do seu coração destilado em seus olhos.
Mas, e se ele não voltar? Continue a rezar por ele, porque talvez você seja a única pessoa neste mundo que possa fazer algo junto de Deus pela salvação dele. Você, mulher, ao menos tenha a consciência tranqüila diante de Deus; se você se apresentar diante d’Ele, hoje, estará em paz, mas seu marido não. Isso deve ser o mais importante para você: sua consciência.
Enquanto ele não volta, viva a sua vida intensamente para Deus e para os outros. “Só o egoísta desperdiça a vida”, afirma Michel Quoist. Viva para o bem dos seus filhos, de sua família e de todos que precisarem de você. Não coloque toda a felicidade sobre um homem de carne e ossos. Deus é mais importante.
Se você chegou à conclusão de que, quando do seu casamento, houve algum motivo que possa tê-lo tornado inválido, então, consulte o Tribunal da Igreja, e se for este o caso, dê início ao Processo de Solicitação de Declaração de Nulidade. Oriente-se com alguém sábio. Se a declaração de nulidade for concedida, então, você estará livre para se casar novamente com a bênção de Deus. Mas não comece outro relacionamento, sobretudo sexual, com outro homem, pois isso não é da vontade de Deus, e ninguém é verdadeiramente feliz se não vive conforme a santa lei divina.
Se por acaso o seu processo de nulidade está andando bem, e você conheceu alguém que lhe agrada, não se precipite num namoro, mantenha com esta pessoa apenas um bom relacionamento de amigos, até que a Igreja se pronuncie.
Mulher traída e abandonada, eu sei que a sua dor é grande; eu sei que o seu coração sangra, porque eu já ouvi muitas de vocês no relato de suas dores, mas eu quero lhe dizer algo importante a você que tem fé: Não desperdice nenhuma dessas lágrimas; ofereça-as todas ao Senhor; una-as ao cálice da Santa Missa, e elas serão sagradas. Esta será a sua melhor oração, não só pelo seu esposo que se foi, mas também pela redenção do mundo e sua própria santificação. Não é da cruz que vem a ressurreição? Não é da cruz que vem a salvação? Se de um lado a cruz é drama; de outro, é uma oportunidade de sangue de fazer comunhão com o Senhor que padeceu muito mais do que isso por nós, e que nos convida a, – voluntariamente –, “completar o que falta à sua paixão” (Cl 1, 24). Todo sofrimento é uma chance de santificação depois que Jesus fez dele a matéria-prima da salvação. Não perca essa dolorosa chance.
Enfim, mulher, houve outra Mulher, que desde o nascimento do seu Filho, experimentou as dores do mundo até a consumação do seu Amado. Una-se a Ela, consagre-se a Ela, derrame suas lágrimas com Ela, segure em suas mãos santas. Ela a sustentará.
Felipe Aquino