O que é a fé?

O que é a fé?

A fé católica é coisa absolutamente diversa de uma simples
crença

 Em artigo nosso anteriormente
publicado
, falamos do equívoco que é ver a religião como fenômeno
exclusivamente
sentimental e subjetivo, sem
relevância intelectual e sem referência à realidade das coisas. Dizíamos que
tal equívoco nasce de dois outros erros: (1) um que faz a religião depender somente
da fé, como se não houvesse verdades religiosas que o homem pudesse conhecer à
luz de sua razão natural; (2) outro que consiste numa falsa visão da fé, que é
confundida com mera crença. Ora, como dissemos naquela oportunidade, esses dois
erros são eliminados quando mostramos que: (1) existem verdades religiosas
naturalmente acessíveis ao conhecimento humano; (2) a fé católica, como virtude
teologal, é coisa diferente de uma simples crença.

E vamos começar
desenvolvendo o segundo desses pontos: a fé católica é coisa absolutamente
diversa de uma simples crença
. É importante frisar isso,
porque, hoje em dia, as pessoas parecem já não mais saber o que é fé, acham que
ter fé é acreditar em qualquer coisa. Porém, como sublinhou o atual Papa Bento
XVI, quando ainda era o Cardeal Ratzinger, responsável pela Congregação da
Doutrina da Fé (órgão que assessora o Santo Padre na defesa da fé), na famosa
declaração Dominus Iesus: «Deve-se
manter firmemente a distinção entre a fé teologal e a crença nas outras religiões»
(n. 7 do documento).

Precisamos, portanto, retomar o sentido da fé. Para isso, podemos recorrer ao
significado primitivo e etimológico da palavra. Fé (do latimfides) significa a
confiança que depositamos na palavra de alguém. Este sentido ainda está bem
presente em expressões legais, como “boa-fé” ou “má-fé”. Um oficial de justiça,
por exemplo, quando atesta algum acontecimento, escreve “certifico e dou fé”;
com isso ele quer dizer que é verdade o que ele está atestando e que as pessoas
podem confiar no que ele está falando. Dos documentos lavrados em cartório
também se diz que têm “fé pública” – é mais uma aplicação do mesmo sentido.

Quando confiamos na palavra de um
homem, temos o que se chama “fé humana”. A
fé humana é um meio de conhecimento
, grande parte dos conhecimentos que
temos de história, geografia ou de ciências naturais chega a nós por meio da fé
humana. São conhecimentos que não podemos verificar por nós mesmos; todavia,
nós os aceitamos confiando na palavra dos que nos ensinaram. Por exemplo, só
sabemos que a Independência do Brasil foi proclamada em 1822 porque confiamos
nos documentos que nos relatam isso e acreditamos no magistério dos
historiadores – nenhum de nós já havia nascido àquela época e poderia verificar
tal fato por si mesmo.

Como afirmei acima, quando
aceitamos como verdade o que nos diz determinado homem, digno de confiança,
temos o que se chama fé humana. Porém, quando aceitamos como verdadeira a
Palavra revelada de Deus, temos o que se chama “fé divina”. É por isso que o
Catecismo da Igreja Católica, nos seus parágrafos 142 e 143, define a fé como
«a resposta do homem ao Deus que se revela».

Ter fé, portanto, não é
acreditar em qualquer coisa;
 ter fé é aceitar como
verdadeira a Palavra revelada de Deus, é aderir
voluntariamente às verdades que Deus comunicou à humanidade, sem as aumentar
nem as diminuir.

Isso, por si só, já mostra
o quão distante está a fé católica de uma simples crença. A fé é um
conhecimento, mas uma simples crença não é conhecimento. Uma crença pode ser
puro fruto da imaginação, da fantasia e da subjetividade do crente. No entanto,
a fé está baseada no fato histórico e objetivo da Revelação. A fé é um
conhecimento sobrenatural historicamente transmitido por Deus à humanidade.
«Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos
profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio de seu Filho» (Hb
1,1-2).

O católico, portanto, não é um crente, mas
um fiel, que guarda na inteligência e no coração o conhecimento sobrenatural transmitido aos homens por Deus. Este conhecimento
sobrenatural em que consiste a fé está depositado nas duas fontes da Revelação
divina, a Sagrada Escritura e a Tradição Apostólica, e nos é transmitido por
intermédio do magistério da Igreja. Entretanto, existe um conhecimento natural
de Deus que, de certo modo, consiste num preâmbulo da fé e do qual pretendemos
falar, com a ajuda do Altíssimo, no próximo artigo.

 

Rodrigo
R. Pedro