Nossa Senhora



Nossa Senhora vivia uma vida de confiança e certeza com aceitação de tudo que viesse da Divina Providência. Sua vontade conduzia seus desejos num único rumo: “faça-se em mim segundo  Vossa palavra”. E assim era consolada e podia consolar.

Convívio intenso, separação definitiva

   Os três anos de vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo foram passados entre os discípulos e apóstolos. Era um convívio intenso, apenas superado pelo relacionamento havido entre Jesus e Sua Mãe Santíssima nos trinta anos em que, estando juntos, olhavam-se e queriam-se bem e, assim, viviam a mais elevada forma de relacionamento humano: amavam-se.

   Um dia chegou a hora crucial da missão redentora de Nosso Senhor: chegou a Paixão. Num instante, Jesus passou pela morte de cruz e foi sepultado. Embora tenha chegado também a manhã da ressurreição, e Cristo Ressuscitado ter manifestado-se em várias oportunidades, aquele convívio inicial já não mais existia, era inatingível.

   Os apóstolos puderam ainda acompanhar Nosso Senhor ressuscitado quando, quarenta dias depois da ressurreição, Ele subiu aos céus. Foi um favor inestimável, uma graça enorme, mas foi também a separação definitiva. Nosso Senhor voltou glorioso para a direita do Pai Eterno.

   Aqueles homens ficaram sem Jesus e tinham uma missão a cumprir. Eles vacilavam. Ainda não estavam confirmados em graça, viviam de uma Fé fraca. Vendo Jesus afastar-se, eles poderiam deixar-se invadir por uma onda de desolação, incerteza, e medo. Poderiam muito bem julgarem-se desamparados, abandonados e… sem consolo.

Mãe de todo Consolo

   Apesar do clima de desalento e abandono que rondava as almas deles, eles sabiam que Nossa Senhora era a mais fiel e santa das criaturas e que nela encontrariam consolo para seus espíritos. Sobretudo eles acreditavam que Maria -“cheia de graça”– trazia em si a presença consumada, a ação constante do Espírito Santo Consolador. Eles sabiam que poderiam pedir a Ela o consolo na aflição e o auxílio que lhes faltava. Disso eles tinham certeza.

   Foi nessa ocasião que, de dentro de sua fraqueza, inspirados pela graça divina que nunca falta, os apóstolos e discípulos realizaram um ato sublime de humildade, de reconhecimento, de exaltação: procuraram estar juntos de Nossa Senhora, sob a proteção dela!

   Recorreram a Ela, pediram Seu auxílio e assim reconheciam que Ela era a única que mantinha a certeza, vivia a esperança da Fé e confiava. Como verdadeira Mãe dos discípulos de seu Divino Filho Jesus, Maria Santíssima foi a fonte do consolo de todos. Foi este consolo que trouxe aos apóstolos alento e os ajudou a cumprir a missão que a Providência lhes tinha dado.

   Por isso, “bendito seja Deus Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Pai de Misericórdia e Deus de toda consolação, o qual nos consola em toda a nossa tribulação, para que também nós possamos consolar os que estão em qualquer angústia…” (II Cor. 1, 3 – 5)

   Foi Nossa Senhora o instrumento de Deus nessa ocasião. Foi Ela quem os consolou e os encorajou dando a eles alento e força para cumprir o mandado do Redentor Divino: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura. O que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer será condenado”. (Mc. 16, 15-16) Esse mandado de Nosso Senhor estendeu-se a todos aqueles que se tornaram cristãos pelo batismo. E estes cristãos, de dentro suas fragilidades, em muitas e muitas ocasiões, necessitaram de ajuda, de alento, de consolo em sua caminhada. E isto é assim até hoje.

   O exemplo dos apóstolos, procurando Nossa Senhora nos momentos de aflição propagou-se rápido entre os primeiros cristãos e continuou a expandir entre os fiéis na medida em que a Igreja crescia pelo mundo afora.

O Exemplo dos Apóstolos

   O exemplo dos Apóstolos foi uma das razões do porque Nossa Senhora passou a ser a intercessora certa a quem seus filhos recorriam. Ela, indiscriminadamente, tornou-se o porto seguro para os necessitados, os aflitos e desamparados.

   Para toda a Igreja Maria converteu-se na fonte do espírito de fortaleza que anima e reconforta os sofredores. Passou a ser a consoladora, a Senhora da Consolação até para aqueles que a procuravam depois de uma infidelidade ou queda. E, “nunca se ouviu dizer que alguém que tenha recorrido à proteção dela tenha ficado desamparado”, …sem consolo.

Na Terra e no Céu…

   Maria consola sempre seus filhos nascidos no batismo. Ela consola aqueles que continuam a luta nessa terra, que caminham rumo à Casa do Pai e ainda padecem das vicissitudes, limitações e aflições próprias ao homem concebido no pecado original.
Nossa Senhora é, portanto, fonte de consolação para todos que vivem, que participam da Igreja Militante.

   – Nossa Senhora poderia consolar também os membros da Igreja Gloriosa? A resposta seria: Sim. O que acontece, porém, é que os bem-aventurados não necessitam diretamente do consolo dela. No Céu o gozo é constante e o próprio Deus é o “consolo demasiadamente grande” para os santos.

   E para os membros da Igreja padecente a Virgem Santíssima seria também fonte de consolo?

   Sem dúvida. Para eles também, Ela é Nossa Senhora da Consolação.
Maria socorre as santas almas de seus devotos não só aqui nesse nosso “vale de lágrimas”, mas também no purgatório, onde tem pleno poder, tanto para aliviá-los como também para livrá-los completamente.

   Sobretudo isso acontece, como nos diz Santo Afonso Maria de Ligório, nas festividades de Nossa Senhora. Quando, então, a Virgem Santíssima vai até o purgatório e liberta grande número de almas. Eis o que conta o Santo em sua conhecida obra “Glórias de Maria Santíssima”:

   “Refere São Pedro Damião [Doutor da Igreja falecido em 1072] que certa mulher, chamada Marózia, apareceu depois de morta a uma sua comadre, e lhe disse que no dia da Assunção de Maria havia sido libertada do purgatório. Que, juntamente com ela, saíra um tão considerável número de almas, que excediam o da população de Roma”.

Santo Agostinho e Nossa Senhora da Consolação

   A devoção a Nossa Senhora da Consolação — ou Consoladora dos aflitos, como é designada na Ladainha Lauretana – foi difundida em todo o mundo principalmente pela Ordem dos Agostinianos. Isso aconteceu como uma forma de retribuição pela graça da conversão do grande Fundador dos agostinianos.

   Santa Mônica, aflita e desolada por causa da vida desregrada e dos desvarios de seu filho Agostinho, recorreu à intercessão de Nossa Senhora da Consolação, e pouco depois teve a suprema alegria de vê-lo convertido em fervoroso católico. Agostinho tornou-se um dos maiores santos da Igreja, e escolheu como protetora da Ordem que fundou aquela que é a Consoladora dos Aflitos, a Senhora da Consolação e incumbiu seus filhos espirituais de divulgar essa devoção. A devoção a Nossa Senhora da Consolação foi aprovada pelo Papa Gregório XIII, em 1577.

   Quando evocamos o nome de Nossa Senhora dos Aflitos, colocamo-nos em sua inconfundível e admirável proteção de mãe. Mãe que quer a felicidade de seus filhos e intercede por suas aflições e seus anseios, sempre mostrando seu filho Jesus. Em nossas aflições, também nós podemos recorrer a Maria. Procurando a “Consoladora dos Aflitos”, ouviremos no fundo de nossos corações palavras de sabedoria. Pois é certo que, com maternal doçura, os lábios de Maria destilam expressões de consolo.

   É sempre bom procurar a consolação junto a Deus e junto a Maria, pois ela é a mãe dos aflitos. E Nosso Senhor Jesus Cristo nos lembra nos santos evangelhos: “Bem-aventurados são aqueles que choram porque serão consolados” (Mt. 5, 5).

   Como exemplo de súplica que podemos elevar até o trono da Santíssima Virgem, aqui está uma oração que foi ditada pela Fé e esperança de uma alma aflita, uma alma necessitada de consolo e que demonstra humildade e confiança:

   Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria da Consolação, do poder ilimitado que em Vosso Imaculado Coração depositou Vosso Divino Filho, Jesus. Cheio de confiança na onipotência de Vossa intercessão, venho implorar o Vosso auxílio. Em Vossas mãos tendes a fonte de todas as graças que brotam do Coração amabilíssimo de Jesus Cristo. Abri essa fonte em meu favor; conceda-me a graça de que tanto necessito e ardentemente Vós peço. Não quero ser o único a ser rejeitado por Vós. Sois minha Mãe e sois também a soberana do Coração de Vosso divino Filho.

   Atendei, benignamente, oh minha Senhora e minha Mãe, a minha súplica que agora Vos dirijo. Senhora, volvei sobre mim Vossos olhos misericordiosos e alcançai-me a graça… (citar o pedido) que agora fervorosamente vos imploro. Amém. (JSG)

Fontes:
– Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria Santíssima, Vozes, Petrópolis, 1964, 6ª ed.
– Padre Laurentino Gutiérrez, Manual da Arquiconfraria da Sagrada Correia, Editora Ave Maria, São Paulo, 1960.
– Nilza Botelho Megale, Cento e doze invocações da Virgem Maria no Brasil, Vozes, 1986, 2ª ed.
– www.nossasenhoradosaflitos.com.br
– www.igrejadaconsolacao.com.br