Há quem diga que pelo menos no caso da gravidez resultante de estupro o aborto ajudaria a mulher. Tal afirmação é falsa. Para contradizê-la podemos citar o testemunho de duas vítimas de estupro que engravidaram e deram à luz, ambas moradoras da cidade de Anápolis, Goiás.
Maria Lucilene
A primeira delas é Maria Luciene de Oliveira Nunes, 30 anos, que foi violentada em julho de 1995 e deu à luz uma linda menina, Bruna de Oliveira Nunes. Mãe e filha foram a Brasília na caravana pró-vida de 16 de outubro de 1996 promovida pela Comissão de Pastoral Familiar do Regional Centro-Oeste. Diante da multidão reunida na Esplanada dos Ministérios, Luciene foi entrevistada e pronunciou em alto e bom som as seguintes palavras:
– O que você teria sentido se tivesse feito aborto?
Luciene: “Estaria morrendo de remorsos”
– A mulher estuprada tem o direito de abortar?
Luciene: “Não tem esse direito. A criança não tem culpa”
– A criança nascida de um estupro merece ser menos amada pela mãe?
Luciene: “Não. Merece ser mais amada” (sic!).
– Uma lei que autorizasse o aborto em caso de estupro ajudaria a mulher?
Luciene: “Não ajudaria”.
– Há pessoas que dizem que o estupro é uma violência tão grande que, se a mulher não abortar, vai-se lembrar para sempre do que sofreu a cada vez que olhar para a criança. O que você diz disso?
Luciene: “No início, quando você percebe que está grávida, fica com muita raiva. Mas depois que a criança nasce, você nem se lembra mais do que aconteceu”.
Quanto ao amor de Luciene por sua filha é inútil descrever por palavras. Seria preciso ver como ela a estreita em seus braços.
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Maria Aparecida
O segundo testemunho é de Maria Aparecida, 48 anos, violentada em março de 1975. Ela mesma se prontificou para contar sua história, pois é intransigentemente contrária ao aborto. O estupro que resultou em gravidez teve para ela conseqüências gravíssimas: a perda do noivo (que não aceitou a criança) , a incompreensão dos parentes, surras diárias de sua mãe (que não acreditava que a gravidez resultasse de um estupro), e um parto por cesariana. Seu filho Renato está agora cursando a faculdade.
– O que a senhora sentiu quando o filho nasceu?
Maria Aparecida: Eu não vi, porque fiquei na UTI. Mas quando eu voltei e vi o meu filho… Nossa! Eu senti a pessoa mais feliz do mundo! Não me lembrei de problema nenhum!
– A senhora se arrepende de não ter abortado?
Maria Aparecida: Nunca!
– Se a senhora tivesse abortado, o que estaria sentindo hoje?
Maria Aparecida: Muito mal. Consciência pesada. Remorsos.
– A senhora acha que qualquer mulher estuprada sentiria remorsos?
Maria Aparecida: Sim. Pelo resto da vida! Eu tenho certeza. Pois eu tenho remorso só de ter pensado em abortar!
– Quando a senhora olha para o seu filho, pensa no estupro?
Maria Aparecida: Não. O preço por ter um filho de estupro é altíssimo. Mas o preço da consciência pesada é muito maior. Eu tenho certeza que quem aborta vive sempre com um martelinho na mente batendo, para que nunca esqueça que é criminosa.
– Criminosa, mesmo em caso de estupro?
Maria Aparecida: Mesmo em caso de estupro. De qualquer maneira.
– A mulher que sofre estupro não tem o direito de abortar?
Maria Aparecida: Não.
– Por que não?
Maria Aparecida: Porque a criança que está no ventre dela não tem culpa de nada.
– O que a senhora sente quando olha para o seu filho?
Maria Aparecida: Eu sinto amor demais! E não suportaria agora pensar que ele não existiria, quando visse uma pessoa da idade dele. Valeu a pena e está valendo. Olha! Se você sofre demais para conseguir uma coisa, é muito mais amor. Porque esse filho é o que mais deu dilema.
[Maria Aparecida foi entrevistada em sua casa no dia 16/02/97]
Anápolis, 01 de abril de 1997.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz