“A alegre fragilidade do ser humano!’
Apenas terminados os festejos do Momo de Carnaval, a comunidadereúne-se novamente em respeitoso e temeroso silêncio para receber as cinzas.São duas festas diferentes, mas que na realidade mostram a beleza do ser humano.Quando se perguntar quem somos nós, podemos responder que somos a alegria nafragilidade esperançosa. Parece estranho que a alegria se misture tão bem com afragilidade. A alegria não é frágil, nem a fragilidade é triste edesesperadora. O ser humano, (o homem e a mulher) na sua constituição tem afragilidade como projeto, pois não é um monumento de bronze perfeitamentetalhado. Ele é um contínuo construir-se, ajustar-se, modelar-se. Não somosseres acabados, imutáveis.
A celebração das cinzas da quarta-feira, marcando o início dotempo santo da Quaresma, é a bela indicação de nossa origem: “Lembra-te homemque és pó e em pó te tornarás”. É uma ameaça dura que nos coloca diante dosolhos nossa realidade frágil e efêmera. Lembra-nos que um dia éramos pó, deacordo com a simpática narração da criação do homem. Esta lembrançacomunica-nos o respeito a Deus, a necessidade do arrependimento, pois no finalnós iremos prestar contas. Contudo, justamente por ser cinza é que podemos nosalegrar. É nossa condição: frágil. Somos um ser aberto e não um bloco de pedraimutável. Neste barro mole e frágil está nossa maior riqueza. Não somosdefinitivos. Crescemos, nos moldamos, nos adaptamos e nos construímosincessantemente. Parece um baile de Carnaval onde o corpo se move e se alegra.A massa do corpo vibrante vive e faz felicidade a partir daquilo que é frágil eé pó.
Somos o alegre caminhar e o alegre dançar porque nestafragilidade, se expressa nosso ser e nosso modo de ser: homem e mulheres sempreem construção, sempre em movimento interior de vida e alegria. Mesmo na dordesta fragilidade, o ser humano é capaz de edificar a desde da alegria e dapaz.
Diante disso, podemos concluir que a vida humana é projeto que serealiza e se reconstrói. Não há nada que seja totalmente definitivo, como nãohá nada que seja totalmente triste. Triste é quando esta fragilidade e levezasão destruídas por aqueles que querem ser donos do ser humano e domina-lo. Umaflor é bela se respeitado seu tempo de se abrir, quando não é violentada sualiberdade de ter sol e vento, quando não é cortada e jogada fora, como quandonão se lhe reconhece o direito a mover-se, crescer, construir-se e participar.
No altar da vida, todas a alegrias e toda compunção das cinzas sãoduas faces do mesmo ofertório. O que faz nossa grandeza diante de Deus é estarnas mãos dele, deixar-se moldar, ou melhor, construir-se diante dele, olhando oprojeto que ele tem para todo ser humano: ser feliz, mesmo sendo frágil. Enesta fragilidade, construir-se como um desfile alegre por pertencer a Deus enele viver e mover-se.
Pe. Luiz Carlos de Oliveira, C.Ss.R.