Vencendo o luto, superando as perdas
A nossa vida é cheia de perdas e lutos, de altos e baixos. A maior dor, porém é a perda de alguém muito querido, como pai, mãe, esposo ou esposa, alguém com um laço afetivo muito forte. Geralmente associamos perda ao luto, mas existem situações em nossa caminhada que são tão intensos que vivemos uma perda como um luto. Por exemplo, as separações, as mudanças de cidade ou trabalho, o termino de um namoro, a mudança de escola, decepções, traições e etc. É uma dor que precisa ser enfrentada com realismo e muita ajuda pessoal, espiritual e muitas vezes acompanhada por algum profissional, ou alguém que tenha condições de vencer comigo estes momentos difíceis. Quanto mais próxima à pessoa ou a situação que se perde mais difícil e delicado o processo de recuperação, mas é possível viver bem e superar esses momentos de perdas e lutos.
Há dois meses e meio eu passei por uma grande perda, o falecimento de minha mãe. Fui para São Paulo duas semanas atrás no retiro dos sacerdotes da minha comunidade, seria um encontro de silêncio e muita reflexão, iríamos trabalhar a nossa historia de vida, na verdade era um retiro de cura interior, graças a Deus. Como eu estava precisando fazer silêncio para digerir tudo que tinha vivido nos últimos meses, só que eu não conseguia entrar na dinâmica do retiro, estava muito agitado e com muitas dores de estômago e de cabeça. Já eram sintomas de uma perda mal vivida, eram sintomas patológicos de algo que estava se passando em minha alma, em meu coração, a dor da perda, da ruptura, não tinha ainda vivido de verdade o luto de minha mãe. Isso tudo eu descobrir no primeiro atendimento onde minha acompanhadora enviou-me para que a Reinalda Reis conversasse e orasse por mim. Foi um atendimento libertador, tanto a nível espiritual como psicológico, pois estava com duas situações, mas ela detectou que eu ainda não tinha vivido o luto, a ruptura, eu ainda estava e tinha o direito de estar de luto pela perda de minha mãe.
Espiritualmente eu me preparei, entendi e vivi a esperança da ressurreição, mas o meu psicológico e emocional e também o físico estavam reclamando. Ela me dizia: _ “O senhor esta de luto, tem o direito de chorar, de querer ficar só, de querer o silêncio, é normal. Precisa aceitar que teve uma grande perda, um vínculo afetivo fortíssimo que é a mãe. A psicologia diz que é necessário dois ou três anos para você se recuperar totalmente da perda, da ruptura de alguém tão próximo como pai, mãe, irmão, esposo (a). E quando o vínculo afetivo é intenso e verdadeiro o processo é longo, precisa-se de assumir e respeitar com muita paciência”. O meu corpo não estava preparado, muitas vezes fazemos essa separação e nos esquecemos que a nossa pessoa é um todo. Daí podem ocorrer algumas enfermidades patológicas por somatização, pois não me permitir sofrer, chorar e sentir psicologicamente a dor da ruptura, da perda.
Corre-se um grande risco de negar os sentimentos de decepção, de raiva, de não aceitação da morte, daí gera dentro da pessoa um processo de revolta consigo e com Deus e de falta de perdão, que o nosso corpo será o ultimo a pedir socorro, a sofrer e manifestar em pequenas e grandes enfermidades era o que eu estava sentindo no estômago e na cabeça. Se você perdeu alguém, ou teve uma grande ruptura na sua vida é preciso realizar um processo de aceitação e relacionar-se com essa perda, com a dor da morte. Alguns passos para retomar o processo para viver bem as perdas e o luto:
1º- Assumir que você tem direito de estar de luto, de chorar, de querer se recolher, de sentir a dor da ruptura, não tente mascarar a realidade e os seus sentimentos. Isso é natural, querer fugir disso é problema na certa;
2º- Dar nomes aos seus sentimentos: dor, saudade, decepção, revolta, pois você esperava outra coisa e até um milagre, a recuperação, a reconciliação;
3º- Perdoar e reconciliar-se com todas as situações que envolveram essa perda: perdoar a pessoa que faleceu, por ela ter ido desta forma tão cedo, por ter se separado de você, por não ter se despedido e etc. Perdoar a Deus por ter permitido essa morte ou essa perda, por não ter realizado o que você tanto pediu. Perdoar as pessoas que estavam vivendo com você este momento, médicos, parentes, instituições. Perdoar a si mesmo por ter se exposto, por não aceitar o processo natural e não se permitir sofrer.
4º- Tomar consciência que Deus está no controle de todas as coisas: o desejo de Deus não é a morte, nem o sofrimento humano, mas acontece no “tempo de Deus”, pois Ele sabe o que é melhor para nós. A providência é a sabedoria de Deus que rege todas as coisas, a visão dEle não é limitada como a nossa. Deus não erra e sempre nos vê com amor!
5º- Guardar uma verdadeira imagem da pessoa que se perdeu: Quando se perde alguém é costume até pela consciência preservar a imagem da pessoa, algumas vezes o exagero da memória de quem morreu ou foi embora não nos ajuda a recuperar o luto, a perda. Por isso, é essencial guardar a verdade das pessoas, qualidades e defeitos. Não é só porque morreu que se tornou santo: “Ah fulano era tão santinho, só tinha alguns defeitinhos de nada!”.
“Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido
em espírito. E, sob o impulso de profunda emoção, perguntou: Onde o pusestes? Responderam-lhe: Senhor vinde ver. Jesus pôs-se a chorar. Observaram por isso os judeus: Vede como ele o amava!” (Cf. Jô 11,1-45).
Neste episódio da morte do amigo Lázaro Jesus manifesta seus sentimentos por ele e por suas irmãs Marta e Maria. Viver bem e sem mascarar nenhum sentimento ou momento que possamos estar vivendo, se enxergar como parte de um todo e não como o centro de tudo. Reconciliar consigo e com toda a sua historia como uma grande historia da iniciativa amorosa de Deus. Harmonizar corpo, alma, psiquismo e espírito, isto é viver com sabedoria.
Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. (Jô 11,25).
Oração: Senhor Jesus, também sofrestes perdas e luto. Ajuda-me com o Teu Santo Espírito a viver bem e com equilíbrio todas as etapas de minha vida, os lutos e as perdas que tenho tido na minha caminhada, ensina-me a perdoar e a pedir perdão. A ser desapegado das coisas e das pessoas, que eu viva intensamente o amor nos meus relacionamentos e que eu não deixe para trás nada sem resolver. Nossa Senhora do Equilíbrio, caminhai comigo e rogai por nós.
Minha benção fraterna.
Padre Luizinho,