Ensinamentos de Nossa Senhora de Guadalupe

Nas suas aparições, Nossa Senhora de Guadalupe deixou para nós ensinamentos preciosos, que permanecem válidos em nossos dias

Nossa Senhora de Guadalupe apareceu ao índio Juan Diego e a ele confiou ensinamentos importantíssimos, não somente para as Américas, da qual ela é padroeira, mas para todo o mundo. Em 9 de dezembro de 1531, nos arredores da colina Tepeyac, que fica na atual Cidade do México, aconteceu a primeira aparição de Nossa Senhora naquelas terras.

A aparição da Virgem Maria no México teve um significado histórico impressionante na evangelização dos nativos. Naquele tempo, numerosas etnias habitavam o vale de Anahuac, atual Cidade do México, durante décadas, sob a tirania dos astecas, tribo poderosa, que praticava habitualmente sangrentos ritos idolátricos. Todos os anos, os astecas sacrificavam milhares de pessoas para, conforme sua crença, manter aceso o “fogo do sol”. Além de fazer sacrifícios humanos, os astecas praticavam a antropofagia1, a poligamia2 e o incesto3, que faziam parte da cultura desses povos.

Missionários espanhóis tentaram mudar os costumes dos nativos, mas sem sucesso. O que dificultava a missão dos religiosos era a dificuldade de comunicação, pois não compreendiam os vários dialetos, os maus hábitos, extremamente enraizados na cultura dos nativos, e a relutância destes em deixar a idolatria e aceitar o Deus verdadeiro4.

Nesse difícil contexto histórico, cultural e religioso, as aparições de Nossa Senhora a Juan Diego e os milagres que se seguiram, especialmente a imagem que milagrosamente ficou estampada na tilma5, deram à obra dos missionários católicos naquelas terras a eficácia necessária para a evangelização. A imagem de Nossa Senhora de Guadalupe teve grande importância na conversão dos povos pagãos do México devido aos vários símbolos nela contidos, que os nativos souberam interpretar e consequentemente compreender a mensagem de Deus nela contida. A partir das aparições de Nossa Senhora, a conversão daqueles pagãos para o Cristianismo se realizou prodigiosamente.

Nossa Senhora de Guadalupe e a proteção das famílias

Depois de quase 500 anos, não somente o México, mas a humanidade como um todo vive um neopaganismo6 e necessita novamente do auxílio da Virgem de Guadalupe. No tempo dos astecas, a poligamia e o incesto eram práticas normais. Hoje em dia, torna-se cada vez mais comum o divórcio, o adultério, a prostituição, a pedofilia, os “casamentos” entre homossexuais, “casamentos alternativos” e tantos outros tipos de relações sexuais suscitados pela ideologia de gênero e outras ideologias. Diante desses terríveis males do nosso tempo, devemos defender a família na sua natureza e missão genuínas e incentivar uma educação que prepare retamente as pessoas para a vida e as torne conscientes das suas capacidades, para que enfrentem digna e responsavelmente a sua vocação na sociedade7.

Em contraste com esse quadro desolador, o olhar da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, que tem ao centro uma família, traz-nos uma mensagem de esperança. Segundo o cientista José Aste Tonsmann, que há mais de 34 anos investiga as imagens encontradas nos olhos da Virgem de Guadalupe, essas nos apresentam “uma mensagem de Nossa Senhora a favor da vida e da família em um momento em que ambos são duramente atacados em todo mundo”8. Homem de fé, Dr. Tonsmann acredita que não foi por coincidência que só com a atual tecnologia possamos “decifrar” esta mensagem oculta nos olhos da imagem da Senhora de Guadalupe. Pela Providência divina, “o avanço da tecnologia coincidiu com uma época em que a família é denegrida em todo mundo, por isso, podemos afirmar que a Virgem quis que em nosso tempo a família seja posta em relevo”9.

Outra mensagem de Nossa Senhora de Guadalupe para nosso tempo é que, ao aparecer grávida na imagem, ela nos chama à atenção para a necessidade de respeitarmos a vida nascente. José Aste acredita ainda que a mensagem mais importante – escondida nos olhos da imagem de La Morenita, como é conhecida Nossa Senhora de Guadalupe pelos mexicanos – é que apesar de ter outras seis imagens10, no centro do olhar de Maria se encontre uma família: “É como se a Virgem nos assinalasse a importância da família em um tempo em que esta sofre constantes ataques”11, pois a família é necessária para a perpetuação das culturas e da sociedade, mas também para a realização da vocação última do homem, que é a união definitiva com seu Criador. O próprio Verbo de Deus quis vir ao mundo na Sagrada Família de Nazaré, no lar de Maria e José, como que para mostrar à Igreja e ao mundo a dignidade e o lugar da família na obra da salvação da humanidade.

A Virgem de Guadalupe e a defesa da vida

Naquele tempo, todos os anos os astecas faziam milhares de sacrifícios humanos, de homens, mulheres e até crianças, de pessoas da sua própria tribo ou de outras etnias. Em nossos dias, vemos um retorno aos costumes pagãos, pois se torna cada vez mais comum a prática do aborto, do controle de natalidade, da eutanásia. Essa cultura da morte faz parte do terrível ataque que a “civilização” contemporânea faz à família humana em nossos dias. A esse respeito, o Papa Bento XVI nos ensina que devemos ser “defensores da vida humana desde a sua concepção até ao seu ocaso natural”12.

Nesta árdua missão de defender a vida, como outrora, hoje também nos deparamos com dificuldades de comunicação. Todavia, o problema não é mais tanto o idioma, mas o desconhecimento da verdade. A ditadura do relativismo, que é a negação de verdades objetivas, em última análise é uma negação da fé, da moral e dos dogmas cristãos. Este pensamento está sendo imposto cada vez mais na sociedade, principalmente no meio acadêmico. Dessa forma, surge um novo paganismo, no qual, em nome da deusa “razão”, em muitos países, pessoas têm o “direito” de abortar uma gravidez, de tirar uma vida.

Neste momento trágico da história da humanidade, somos convidados a voltar nosso olhar para a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. Na imagem da Virgem Maria, a faixa preta atada no seu ventre, símbolo asteca da gestação maternal, revela-nos uma mensagem dos Céus a favor da vida. O Cardeal Marc Ouellet afirmou que a aparição da Virgem de Guadalupe como uma mulher grávida é um testemunho poderoso a favor da vida e contra o aborto. A imagem “recorda-nos que a Palavra de Deus se fez carne no ventre de uma mulher e Ele nos leva à redenção, à renovação das relações, à misericórdia com o mundo e também à abertura à vida e à esperança”13. Na imagem de Guadalupe, a Virgem Maria traz em seu ventre Jesus Cristo, “a Verdade e a Vida”14, que tanto necessitamos em nossos dias.

As aparições de Senhora e o poder das trevas

Na mesma região das aparições de Nossa Senhora de Guadalupe, um evento sem precedentes foi realizado na cidade de San Luís Potosí, região central do México. Um grupo de bispos e padres realizou um “exorcismo magno”, também chamado de “grande exorcismo”, sobre todo o México. O rito foi realizado no dia 20 de maio do ano passado, na catedral metropolitana da cidade. “O exorcismo foi realizado para conter o avanço do aborto e da violência ligada ao tráfico de drogas, e também para frear práticas como o satanismo e o culto pagão à ‘santa morte’, as quais [… explica Padre José Antonio Fortea] ‘provocaram uma grande infestação satânica em todo o México’”15. Diante desses fatos, vemos que estamos realmente diante de um verdadeiro retorno ao antigo paganismo.

Esse neopaganismo torna-se ainda mais grave e impiedoso que o anterior, porque, no seu “altar” sacrificam-se milhares e milhares de vidas inocentes, ainda no ventre de suas mães. A esse respeito, em exorcismos feitos na Itália pelo Padre Pellegrino Ernetti, o demônio diz pela boca de um possesso: “Foi a minha descoberta mais bela e saborosa! Matar os inocentes em vez dos culpados e homicidas da máfia! Destruo a humanidade e assim termino, antes do nascimento, com os adoradores do vosso falso Deus”16. O inimigo diz claramente que o aborto tem como finalidade destruir a humanidade e os cristãos.

Quanto às drogas, as palavras do demônio são surpreendentes: “É o alimento mais saboroso que dou de comer aos jovens para enlouquecerem. Desta forma, faço com que se tornem aquilo que quero: ladrões, assassinos, impudico [pessoas sem pudor], ferozes como eu, dominadores do mundo, meus ministros”17. As palavras do demônio são ainda mais surpreendentes em relação ao divórcio, à separação de casais: “Foi invenção minha. Reivindico a sua propriedade. É uma das minhas descobertas mais inteligentes. Desta forma, destruo a família e a sociedade, onde sou adorado como verdadeiro rei do mundo. O sexo… o sexo. Não deis ouvidos àquele homem [Jesus] pendurado da cruz que não vos dá nada. O verdadeiro prazer somente eu vos dou com o sexo livre. O meu reino é sobretudo a liberdade do prazer sexual, com o qual reino sobre a terra”18.

Depois de ler estas palavras com algumas das estratégias demoníacas a respeito do aborto, das drogas e das famílias, não é difícil descobrir quais são as causas de tantos males no México e em todo o mundo.

A reparação das ofensas contra a Virgem Maria

Portanto, quando em que um país aumenta desmedidamente o pecado, o aborto, o divórcio, o sexo livre, as drogas e tantos outros males, na mesma medida cresce a ação tentadora dos demônios. “Na medida em que em uma nação se realizem mais atos de bruxaria e mais satanismo, nessa mesma medida acontecerão mais fatos extraordinários provindos desses poderes das trevas”19. A gravidade da situação no México, que levou à necessidade do “exorcismo magno”, e também no mundo todo, são reveladas em um fato acontecido no Vaticano. Em 2013, Papa Francisco impôs as mãos sobre um peregrino mexicano chamado Ángel. Um dia depois, o exorcista Padre Gabriele Amorth conversou com o rapaz e depois afirmou não ter dúvidas de que ele estava possuído. Segundo o Padre Amorth, Ángel “foi eleito pelo Senhor para mandar uma mensagem ao clero mexicano e dizer aos bispos que têm que fazer um ato de reparação pela horrenda lei do aborto aprovada na cidade do México em 2007 e que supõe um ultraje à Virgem”20.

Por todo o mundo, vemos a crescente impiedade dos homens e a ação dos demônios têm desencadeado uma onda de ódio, violência e maldade por toda a Terra. Entretanto, as contínuas aparições da Virgem Maria, como aconteceu no México, são poderosos auxílios divinos em nossa luta contra os poderes das trevas. Por isso, satanás abomina as aparições marianas, como poderemos constatar nas suas palavras em um exorcismo: “O maior mal deste tempo, para mim, são as contínuas presenças [aparições] desta meretriz [Nossa Senhora]. Aparece em todo o mundo, em todas as nações e persegue-me, arrancando das minhas mãos tantas almas, milhares e milhares, para ouvirem as suas falsas mensagens”21.

Se satanás odeia a Virgem Maria e diz que a sua presença é o maior mal deste tempo para ele, ao contrário, devemos amar profundamente a Mãe de Deus e reconhecer, nas suas aparições, o maior bem do nosso tempo. Por isso, nas festas marianas, mas também em nosso cotidiano, devemos prestar a Virgem Maria a nossa mais sincera homenagem, de modo especial pela sua presença amorosa como Mãe das Américas. Em honra da Virgem Maria, façamos atos de reparação pelos terríveis males do nosso tempo, principalmente a degradação das famílias, o aborto, as drogas, a violência e o satanismo. Nossa Senhora de Guadalupe, rogai por nós!

Oração do Santo Padre Papa João Paulo II a Nossa Senhora de Guadalupe

“Ó Virgem Imaculada, Mãe do verdadeiro Deus e Mãe da Igreja! Vós, que deste lugar manifestais a vossa clemência e a vossa compaixão por todos os que imploram o vosso amparo, ouvi a oração que com filial confiança vos dirigimos e apresentai-a ao vosso Filho Jesus, único Redentor nosso.

Mãe de misericórdia, Mestra do sacrifício escondido e silencioso, a vós, que vindes ao encontro de nós todos, pecadores, consagramos, neste dia, todo o nosso ser e todo o nosso amor. Consagramo-vos também a nossa vida, os nossos trabalhos, as nossas alegrias, as nossas doenças e os nossos sofrimentos.

Dai a paz, a justiça e a prosperidade aos nossos povos, já que tudo o que nós temos e o que somos o deixamos ao vosso cuidado, Mãe e Senhora nossa. Queremos ser totalmente vossos e convosco desejamos percorrer o caminho de uma fidelidade plena a Jesus Cristo na sua Igreja: não nos deixeis desprender da vossa mão amorosa.

Virgem de Guadalupe, Mãe das Américas, pedimo-Vos por todos os Bispos, a fim de que eles conduzam os fiéis por veredas de intensa vida cristã, de amor e humilde serviço a Deus e às almas.

Contemplai essa seara imensa e intercedei para que o Senhor infunda fome de santidade em todo o povo de Deus, e conceda abundantes vocações de sacerdotes e religiosos fortes na fé e zelosos dispensadores dos mistérios de Deus.

Concedei aos nossos lares a graça de amarem e respeitarem a vida nascente, com o mesmo amor com que vós em vosso seio concebestes a vida do Filho de Deus.

Virgem Santa Maria, Mãe do Amor Formoso, protegei as nossas famílias, para que elas estejam sempre muito unidas, e abençoai a educação dos nossos filhos. Esperança nossa, olhai-nos com compaixão, ensinai-nos a ir continuamente para Jesus e, se cairmos, ajudai-nos a levantarmo-nos e a voltarmos para Ele, mediante a confissão das nossas culpas e dos nossos pecados no sacramento da penitência que traz sossego à alma.

Suplicamo-vos que nos concedais um amor muito grande a todos os santos sacramentos, que são como marcas que o vosso Filho nos deixou na terra.

Assim, nossa Mãe Santíssima, com a paz de Deus na consciência, com os nossos corações livres do mal e de ódios, poderemos levar a todos a alegria a paz verdadeiras, as quais vêm do Vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, que, com Deus Pai e com o Espírito Santo, vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém”22.

1. Comiam carne humana.
2. Casavam-se com mais de uma mulher.
3. Mantinham relações sexuais e/ou maritais com pessoas da família e parentes próximos.
4. Cf. ARAUTOS DO EVANGELHO. Nossa Senhora de Guadalupe.
5. Poncho típico dos índios mexicanos.
6. O neopaganismo pode ser também chamado de retorno ao paganismo.
7. PAPA BENTO XVI. Homilia de 12 de Dezembro de 2011. http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2011/documents/hf_ben-xvi_hom_20111212_america-latina.html
8. ACI DIGITAL. Os olhos da Virgem de Guadalupe oferecem ao mundo uma mensagem a favor da família, destaca perito.
9. Idem, ibidem.
10. Cf. Idem, ibidem. Estas imagens são: um indígena sentado; um ancião que, baseado nas representações de Miguel Cabreras, pintor do século XVIII, trataria-se do bispo Juan de Zumárraga; um homem jovem que se trataria de Juan González, tradutor do bispo; o santo mexicano São Juan Diego Cuauhtlatoatzin; uma mulher negra que teria embarcado com o bispo na Espanha para servi-lo no México e a quem o prelado concedeu a liberdade antes de seu falecimento, e um homem barbado com facções europeias.
11. Idem, ibidem. A família que aparece no centro dos olhos da imagem de Guadalupe é um grupo de pessoas composto por uma moça que se destaca por estar ao centro do grupo e parece olhar para baixo, e que o perito acredita ser a mãe desta família. Junto a ela está um homem com chapéu e entre ambos, um casal de crianças. Outro par de figuras representando um homem e mulher maduros (provavelmente os avós desta família, segundo o Dr. Tonsmann) encontram-se de pé, atrás dos demais.
12. PAPA BENTO XVI. Op. cit.
13. ACI DIGITAL. Virgem de Guadalupe oferece poderosa mensagem contra o aborto.
14. Jo 14, 6.
15. PADRE PAULO RICARDO. Bispos e sacerdotes realizam “exorcismo magno” no México.
16. PELLEGRINO ERNETTI. Estratégias de Satanás, p. 21.
17. Idem, ibidem.
18. Idem, p. 20.
19. PADRE PAULO RICARDO. Bispos e sacerdotes realizam “exorcismo magno” no México.
20. Idem, ibidem.
21. PELLEGRINO ERNETTI. Estratégias de Satanás, p. 25.
22. PAPA JOÃO PAULO II. Oração do Santo Padre à Nossa Senhora de Guadalupe. http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/1979/january/documents/hf_jp-ii_spe_19790125_preghiera-guadalupe.html
Natalino Ueda

Natalino Ueda é brasileiro, católico, formado em Filosofia e Teologia. Na consagração a Virgem Maria, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort. É o autor do blog Todo de Maria

Por que Maria é estritamente ligada a Cristo?

Os dogmas de Maria nos levam a Cristo

O Concílio Vaticano II (1962-1965), considerado como o evento mais importante da Igreja no século XX, num dos seus documentos mais significativos, mostra a estreita ligação de Maria a seu Filho Jesus nestes termos: “Pensando nela com devoção, a Igreja penetra mais profundamente no mistério da encarnação e se conforma sempre mais ao seu esposo” (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 65). Em outras palavras, a correta devoção a Nossa Senhora nos aproxima mais de Cristo. Vamos ver como isso acontece.

Os dogmas marianos mostram que Cristo é verdadeiro Deus e homem (Dogma da Maternidade Divina de Maria); apontam para a necessidade de encontrar em Cristo a libertação do pecado (Dogma da Imaculada Conceição); garantem a tensão escatológica, quer dizer que estamos caminhando para a ressurreição final (Dogma da Assunção de Maria); e confirmam a fé em Deus Criador, que intervém livremente na matéria (Dogma da Virgindade de Maria).
Ressalta-se a primeira afirmação: para mostrar que Jesus era, ao mesmo tempo, Deus e homem, o Pontífice, “aquele que faz a ponte” entre Deus e o homem, a “fórmula” mais fácil foi afirmar que Maria é a Mãe de Deus. No fundo, este dogma mariano foi mais um dogma cristológico. Aqui, podemos entender que Maria nos leva a Cristo: este, pois, foi o “caminho” que Deus escolheu para nós, como diz o Credo do Concílio de Niceia (ano de 325): “Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem”.

Há, no entanto, uma outra interessante consideração sobre o lugar de Maria na Igreja. A devoção a Maria manifesta a necessária integração entre Bíblia e Tradição: pois esses quatro dogmas têm fundamento na Escritura, como semente que cresce na tradição (liturgia, intuição do povo crente, reflexão teológica sob a guia do Magistério). Falou-se disso, acima, particularmente com referência aos dogmas da Imaculada e da Assunção. Então, na sua pessoa de moça judia, mãe do Messias, Maria liga Antigo e Novo Testamento: sem essa junção, a fé vai demais para o Antigo Testamento ou se limita no Novo Testamento. Quanto ao Antigo Testamento, eis, por exemplo, o anjo Gabriel anunciando a Maria que “o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará para sempre na casa de Jacó. E seu reino não terá fim” (1,32-33). O mesmo evangelista relata o cântico do Magnificat, em que Maria fala do cumprimento das promessas de Deus “a Abraão e seus filhos” (1,55). E quanto ao Novo Testamento, nas bodas de Caná, o evangelista João nos apresenta uma significativa atuação de Maria que leva os discípulos a “crerem nele” (2,11).

Maria modelo da Igreja

O Concílio Vaticano II apresenta Maria como modelo perfeitíssimo na fé e na caridade” (Documento sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 53). Olhando para esse modelo, a Igreja se preserva daquele modelo machista, que a reduz a uma ação sócio-política, a uma abstração. E quando vira abstração, não precisa de uma mãe. Ela mostra “o rosto materno de Deus”, garantindo a convivência da indispensável “razão” com as indispensáveis “razões do coração”.

É interessante verificar que nenhum outro cristão, exceto Maria, é considerado como “modelo perfeitíssimo da Igreja”. Esse modelo nos leva necessariamente a seu Filho, Jesus Cristo.

A profunda ligação entre Cristo e Maria nos foi lembrada, a título de exemplo, numa homilia do Papa Francisco, proferida no dia 1º de janeiro de 2015. Eis as suas palavras: “Cristo e sua Mãe são inseparáveis: há entre ambos uma relação estreitíssima, como aliás entre cada filho e sua mãe. Tal inseparabilidade é significada também pelo fato de Maria, escolhida para ser Mãe do Redentor, ter compartilhado intimamente toda a sua missão, permanecendo junto do Filho até ao fim no calvário”. Mas o “momento forte”, ou “kairos”, no qual nós cristãos entendemos e alimentamos nossa fé Naquele que nasceu da Virgem Maria é a Liturgia, ou seja, a oração pública da Igreja. Essa oração, pois, expressa e alimenta a nossa fé.

A lei da oração é a lei da fé

Há um princípio muito importante a ser seguido no caminho da nossa fé, expresso pelo princípio Lex orandi, lex credendi, a saber, “A lei da oração é a lei da fé”. Isso significa que a oração expressa a nossa fé.

Tal princípio se aplica particularmente na oração pública da Igreja: a Liturgia. A palavra “Liturgia” vem do grego “leiton ergon” e significa “ao pé da letra”, “obra pública”. Para nós, refere-se à oração pública e oficial da Igreja. A “Liturgia” é definida pelo Concílio Vaticano II como “o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo” e “obra de Cristo Sacerdote e do Seu corpo, que é a Igreja” (Documento sobre a Liturgia, Sacrossanctum Concilium, n. 7).

A Liturgia se expressa, de maneira eminente, na celebração da Eucaristia, que é “fonte e cume de toda a vida cristã” (Documento do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium, n. 11).

A partir disso, podemos afirmar que, quando participamos da Celebração Eucarística, vamos entender, expressar e aprofundar a nossa fé. No fundo, a Liturgia é a grande escola da fé do povo cristão. Nessa “escola”, precisamos aprender a ser “bons alunos”. Isso, pois, significa que, para entendermos o lugar de Maria na vida cristã, é fundamental partir das celebrações da Igreja que faz solene memória da mãe de Cristo.

O lugar de Maria na vida cristã a partir da Liturgia

As três celebrações marianas mais importantes do ano litúrgico apontam para os quatro dogmas marianos: Maria Mãe de Deus, sempre Virgem (1º de janeiro); Imaculada Conceição (8 de dezembro) e Assunção (15 de agosto).

A Igreja definiu estas quatro verdades sobre Nossa Senhora, a saber:
– Maternidade Divina de Maria. Foi definida no Concílio de Éfeso (ano 431).
– Virgindade Perpétua de Maria. Foi definida no II Concílio de Constantinopla (ano 553).
– Imaculada Conceição de Maria. Foi definida pelo Papa Pio IX na Bula Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854).
– Assunção de Maria. Foi definida pelo Papa Pio XII na Bula Munificentissimus Deus (1º de novembro de 1950).

Essas verdades são expressas na Liturgia. A título de exemplo, podem-se considerar algumas orações da Solenidade de “Maria Mãe de Deus”.

No dia 1º de Janeiro, Solenidade de Maria Mãe de Deus, a Igreja proclama, ao mesmo tempo, a Maternidade Divina de Maria e sua Virgindade Perpétua.

Eis, pois, como expressar isso:

a) Na Coleta: “Ó Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação eterna, dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o Autor da vida”.

b) Na Oração sobre as oferendas: “Ó Deus, que levais à perfeição os Vossos dons, concedei aos Vossos filhos, na festa da Mãe de Deus, que, alegrando-se com as primícias da Vossa graça, possam alcançar a sua plenitude”.

c) No Prefácio: “Na verdade, ó Pai, Deus Eterno e Todo-poderoso, é nosso dever dar-Vos graças, é nossa salvação dar-Vos glória, em todo tempo e lugar, e na Maternidade de Maria, sempre Virgem, celebrar os vossos louvores”.

d) Oração depois da Comunhão: Ó Deus de bondade, cheios de júbilo, recebemos os sacramentos celestes; concedei que eles nos conduzam à vida eterna, a nós que proclamamos a Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja.

As partes grifadas dessas orações apontam para a fé da Igreja na Maternidade Divina e na Virgindade Perpétua de Nossa Senhora. Esse mesmo “exercício” pode ser feito para as outras solenidades marianas; e, no fundo, para cada celebração cristã.

O sentido da fé dos fiéis e os dogmas marianos

Voltando ao princípio – “a lei da oração é a lei da fé” –, pode-se observar que as definições dos Concílios, ou dos Papas acima indicadas, são todas posteriores à fé do povo.

No mês de junho de 2014, a Comissão Teológica Internacional publicou um interessante documento intitulado Sensus fidelium, que significa o sentido dos fiéis. Eis como o define:

“O sensus fidei fidelis [sentido da fé dos fiéis] é uma espécie de instinto espiritual que capacita o crente a julgar espontaneamente se um ensino ou prática particular está ou não em conformidade com o Evangelho e com a fé apostólica.” (N. 49).

Essa afirmação tem uma significativa confirmação quanto à fé da Igreja sobre Maria. A título de exemplo, os dogmas da Imaculada e da Assunção foram definidos recentemente, como foi visto acima: mas o povo de Deus celebrava, fazia séculos, a Imaculada Conceição e a Assunção de Maria: e, particularmente, na Liturgia. Em outras palavras, já havia as festas da Imaculada Conceição e de Nossa Senhora da Glória.

É interessante lembrar, a esse respeito, o que Jesus disse aos Seus discípulos na última ceia: “Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade completa” (João 16,12-13). Nesse sentido, os apóstolos não receberam uma “revelação completa” de Jesus. O Espírito, dom do Cristo Ressuscitado, “sopra” sobre o povo de Deus, a Igreja, e a leva, aos poucos “à verdade completa”. Nesta “caminhada da fé”, guiados pelo Espírito, entendemos sempre mais quem é Cristo e todos os que a Ele pertencem, a partir da Sua Mãe.
Lino Rampazzo

Doutor em Teologia pela Pontificia Università Lateranense (Roma), Lino Rampazzo é professor e pesquisador no Programa de Mestrado em Direito do Centro Unisal – U.E. de Lorena (SP) – e coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).

O segredo de Maria nos aprofunda no amor de Deus

O segredo de Maria de nada nos serviria se não o conseguíssemos transpor para nossa vida

Para que uma pessoa exponha seus segredos, é necessário haver certo grau de intimidade com outra. Mesmo que haja laços de parentesco entre elas, é necessário haver intimidade. Assim também acontece entre mãe e filho. Ao pedirmos que Nossa Senhora nos revele, exponha os seus segredos, faz-se necessário que nos coloquemos de pés descalços ou, porque não, de joelhos, como quem pede: “Revela-nos, mostra-nos teu coração!” Só assim estaremos aptos a receber, ou melhor, compartilhar do seu segredo.

Segredo de Maria

Esvaziemo-nos. Façamos silêncio. Aquele silêncio que pairava no mundo em suas origens e que pairou no ventre de Maria. Façamos silêncio. Falemos com nossa alma: Silencia alma minha! Cala ruído de minhas vontades! Silêncio, mundo que me atrai! Alguém que amo vai me contar um precioso segredo. Este, se não mudar o mundo, com certeza mudará o meu mundo, se eu permitir. Mãe, conta-me teu segredo.

É no abismo do bem querer de Deus que começa o segredo de Maria. O que isso significa? Nosso ponto de partida encontra-se no relato do anúncio do Anjo Gabriel (Lc 1,26-38). Nessa passagem, percebemos que a iniciativa da oração sempre parte de Deus. Ele é, de certo modo, o mendigo de Amor, pois se encontra a bater à porta de nosso coração. Em uma constante atitude de espera, de súplica, está sempre pronto a ir ao nosso encontro e convidar-nos para o banquete. Não importa o estado em que nossa alma se encontra nem por quais caminhos tortuosos tenhamos andado. Ele está sempre a nos esperar, disposto a nos enlaçar em seu abraço de Pai.

Ternura do amor de Deus

O segredo de Maria consiste em deixar-se constantemente abraçar e em ser alcançada por esse amor. Consiste, ainda, em permitir que as torrentes da infinita ternura de Deus a surpreenda, como em inúmeras vezes na sua história. Por isso, as gerações a conhecem como a Bem-amada, Bem-aventurada, a Imaculada Maria.

Precisamos redescobrir em nós, em nossa vida, que somos bem amados. A verdadeira oração consiste em, antes mesmo de amar, sentirmo-nos amados. Mais que sentir, sabermos-nos amados, reconhecermo-nos amados. Na Primeira Carta de São João (I Jo 4, 10) está escrito: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos o seu Filho”. A experiência inicial e incondicional para qualquer chamado autêntico e essencial é a de ser amado. Sou amado e por isso respondo com amor.

Ao mergulharmos ainda mais no segredo de Maria, a profundidade a que chegaremos somente o Espírito Santo poderá medir. Pensemos que outra característica da iniciativa divina é a liberdade. Deus escolhe quem quer. Ele é livre, ama sendo livre e liberta, porque ama. Nesse âmbito, olhemos para a Imaculada Conceição.

Deus quis fazer Maria sem mancha de pecado, porque Ele é livre. Esse amor a libertou uma vez e para sempre, tornou-a sem mancha, purificou-a e a fez participante por primeiro dos méritos de Seu Filho. Eis que Seu amor profundo cria a Arca da Nova Aliança. Quis deixar-nos marcados não mais pela lembrança daquela humanidade que desejou ser como Deus, e sim, pela mulher que soube encantá-Lo ao se fazer escrava para fazer a vontade do Pai e se tornar a mãe de Salvador. Esse mesmo Deus, em sua liberdade, escolheu você para ser filho de Maria, para ser seu bem amado!

Transpor as dificuldades

O segredo de Maria de nada nos serviria se não o conseguíssemos transpor para nossa vida. Podemos encontrar a presença do amor de Deus nos acontecimentos simples do dia a dia, seja ao receber uma palavra de conforto de um irmão ou a sua oração por nós. São pequenos mimos de um Deus que ama. Muitas vezes, isso acontece não só naquilo que nós desejamos, mas em coisas que nós nem sabíamos que precisávamos. Acontece em dificuldades por vezes nem conhecidas ou em realidades que já conhecemos, mas diante das quais não teríamos coragem de seguir em frente devido às renúncias que nos seriam exigidas. É preciso amar muito para renunciar, para aceitar a correção e para ter a coragem de corrigir, de educar a alma. Deus nos envia provações, porque nos ama.

Às vezes, estamos esperando espetáculos do Senhor. Maria sabia o segredo: Deus é maravilhoso, não mágico. É poderoso, não é fantasia. Ele se revela em gestos constantes de amor, presentes e inesperados. A vontade de recomeçar que temos é Deus amando! É como o amanhecer que renasce todos os dias! Não importa o tamanho da dificuldade que temos em rezar, Deus está nos amando de novo. Eu sou seu bem-amado, sua bem-amada. Ele está tomando a iniciativa. É o silencio da luz que ressurge rompendo as trevas, não importando o quanto dure a noite.
Érika Vilela

Mineira de Montes Claros (MG), Érika Vilela é fundadora e moderadora geral da comunidade ‘Filhos de Maria’. Cursou Medicina pelas Faculdades Unidas do Norte de Minas e especialista em psiquiatria pelo Instituto de ciências da Saúde, e em Dependência Química pela UNIFESP.

Érika atua como pregadora, articulista, missionária pela Casa Mãe de Misericórdia e médica na Estratégia Saúde da Família e na Clínica Home-Med. Evangelizadora com fé e ciência, duas asas que nos elevam para o céu, ela tem a bela missão de encontrar, na união mística com a dor salvífica de Cristo, a força para seguir em frente, sabendo que Deus opera sempre as Suas maravilhas!

Soberba, o pior de todos os pecados

A soberba faz a pessoa se sentir como se fosse a fonte de seus próprios bens materiais e espirituais

Queridos irmãos, Deus tem um plano para nós, que inclui felicidade e salvação. Pecamos quando erramos o alvo em nossa vida e pagamos o preço, ou seja, as consequências de nossas escolhas erradas. Mas é possível reconhecer que erramos, começar tudo de novo e refazer a nossa caminhada. Deus sempre nos espera de braços abertos como o pai do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32). Refletir sobre o pecado da soberba e suas consequências em nossa vida pode nos ajudar muito a entendê-lo melhor e a fugir dele. Medite a Palavra de Deus para você hoje.

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Vamos, com mais um exercício espiritual, refletir sobre o pecado do orgulho ou soberba:

A soberba é o pior de todos os pecados capitais. É o que levou os anjos maus a se rebelarem contra Deus, levou Adão e Eva à desobediência e ao pecado original. Alguém disse que o orgulho é tão enraizado em nós, por causa do pecado original, que “só morre meia hora depois do dono”. Por outro lado, por ser o oposto da soberba, a humildade é grande virtude, a que mais caracterizou o próprio Jesus, “manso e humilde de coração” (cf. Mt 11,29), e também marcou a vida de Maria, “a serva do Senhor” (cf. Lc 1, 38), José e todos os santos da Igreja.

O demônio não pode nada contra uma alma humilde

São Vicente de Paulo ensinava a seus filhos que o demônio não pode nada contra uma alma humilde, uma vez que, sendo ele soberbo, não sabe se defender da humildade. Por isso, com essa arma, o maligno foi vencido por Jesus, Maria, José, São Miguel e os santos. A soberba consiste em a pessoa se sentir como se fosse a “fonte” dos seus próprios bens materiais e espirituais. Acha-se cheia de si mesma e se esquece de que tudo vem de Deus e é dom do Alto, como disse São Tiago: “Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das luzes” (Tg 1,17).

O soberbo se esquece de que é uma simples criatura, que saiu do nada pelo amor e chamado de Deus, e que, portanto, depende do Senhor em tudo. Como disse Santa Catarina de Sena, a soberba “rouba a glória de Deus”, pois quer para si as homenagens e os aplausos que pertencem só a Ele. São Paulo lembra aos coríntios que “nossa capacidade vem de Deus” (II Cor 3,5). Aos romanos ele disse: “Não façam de si próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente modesto” (Rm 12,3). “Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisas modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos” (Rm 12,16). Aos gálatas, o apóstolo dos gentios destacou: “Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” (Gl 6,3). A soberba tem muitos filhos: orgulho, vaidade, vanglória, arrogância, prepotência, presunção, autossuficiência, amor-próprio, exibicionismo, egocentrismo, egolatria.

Podemos dizer que a soberba é a “cultura do ego”. Você já reparou quantas vezes por dia dizemos a palavra “eu”? “Eu vou, eu acho, eu penso que, eu prefiro…” A luta do cristão é para que essa “força” puxe-o para Deus e não para o ego. Jesus, nosso modelo, afirmou: “Não busco a minha glória” (Jo 8,50). São Paulo insistia no mesmo ponto: “É porventura, o favor dos homens que eu procuro ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar aos homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Deus” (Gl 1,10).

A soberba é o oposto da humildade

A soberba é o oposto da humildade, palavra esta que vem de “húmus”, aquilo que se acha na terra, pó. O humilde é aquele que reconhece o seu “nada”, embora seja a mais bela obra de Deus sobre a Terra, a glória d’Ele, como dizia Santo Irineu, já no século II. São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja, no século V, ressaltou: “Toda a vitória do Salvador dominando o demônio e o mundo foi iniciada na humildade e consumada na humildade!”.

 

Adão e Eva, sendo criaturas, quiseram “ser como deuses” (cf. Gen 3,5). Jesus, sendo Deus, fez-se Criatura. Da manjedoura à cruz do Calvário, toda a vida de Cristo foi vivida na humildade e na humilhação. Por isso, Ele afirmou que, no Reino de Deus, os últimos serão os primeiros e quem se exaltar será humilhado. Façamos como Santa Teresinha do Menino Jesus, que procurava o último lugar. Nosso Senhor Jesus já nos deu a receita para vencermos o orgulho e a soberba: a virtude da humildade.

Oração diante das tentações

Mãe querida, acolhe-me em teu regaço, cobre-me com teu manto protetor e, com esse doce carinho que tens por teus filhos, afasta de mim as ciladas do inimigo e intercede intensamente para impedir que suas astúcias me façam cair. A ti me confio e em tua intercessão espero. Enchei o meu coração das virtudes da humildade e mansidão, que são qualidades que a senhora imprimiu no teu filho Jesus Cristo. Amém.


 

Padre Luizinho

A vontade de Deus na vida profissional

A vida profissional de cada um é um meio para se fazer a vontade de Deus no dia a dia

Viver mal a vida profissional, sem competência nem bom desempenho é uma forma de desobedecer a vontade de Deus. O trabalho foi colocado em nossa vida por Deus como “um meio de santificação”. Depois que o homem pecou no Paraíso, perdendo o “estado de justiça” e “santidade” originais, Deus Pai fez do trabalho um meio de redenção para o homem.

“Porque escutaste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te proibira de comer, maldito é o solo por causa de ti. Com sofrimentos dele te nutrirás todos os dias de tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e cardos e comerás a erva dos campos. Com suor do teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado” (Gen 3,17-19).

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Vida profissional, matéria-prima de salvação

Mais do que um castigo para o homem, o trabalho foi inserido na sua vida para a redenção. Por causa do pecado, o trabalho agora é acompanhado do “suor”, mas deste sofrimento Deus fez matéria-prima de salvação.

Sem o trabalho do homem não há o pão e o vinho que, na Mesa Eucarística, se transformam no Corpo e no Sangue de Cristo. Sem o trabalho do homem não teríamos o pão de cada dia na mesa, a roupa, a casa, o transporte, o remédio, a cultura entre outros. Tudo que chega a nós é fruto do trabalho de alguém; é por isso que o labor é santo e nos santifica quando realizado com fé, conforme a vontade de Deus.

São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, durante a celebração de uma Santa Missa, no campus da grande universidade de Navarra, na Espanha, fez uma histórica homilia, como título “Amar o Mundo Apaixonadamente”.  Ele fundou a prelazia para difundir a santidade na vida profissional e nas atividades diárias. Na homilia, ele falava da necessidade de “materializar a vida espiritual”. O objetivo era combater a perigosa tentação do cristão de “levar uma espécie de vida dupla: a vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e, por outro, diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas realidades terrenas”.

Santo Escrivá, um santo dos nossos dias, canonizado em 2002 por João Paulo II, olhava a vida com grande otimismo e considerava o trabalho e as relações humanas com alegria ao dizer: “O mundo não é ruim, porque saiu das mãos de Deus”. “Qualquer modo de evasão das honestas realidades diárias é para os homens e mulheres do mundo coisa oposta à vontade de Deus”.

Na verdade, somente com essa ótica podemos entender plenamente o mundo com os olhos de Deus. Nem o marxismo cultural, materialista e ateu, nem o consumismo desenfreado de nossos dias, nem o hedonismo, que busca o prazer como fim, podem dar ao homem moderno a felicidade e a verdadeira paz.

Qualquer que seja o trabalho, sendo honesto, é belo aos olhos de Deus Pai, porque com ele estamos “cooperando com Deus na obra da criação”. Não importa se a vida profissional consiste nos simples afazeres de uma doméstica ou nas complicadas tarefas de um cirurgião que salva uma vida, tudo é importante diante do Senhor. O que mais importa é a intensidade do amor com que cada trabalho é realizado. Ele se tornará eterno na vida futura.

São Josemaria Escrivá falava da necessidade de o Cristianismo ser encarnado na vida cotidiana.

“Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens. Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor. Servi ao Senhor Jesus Cristo” (Col 3,13).

Fazer tudo para o Senhor

Tudo o que realizamos na vida profissional deve ser feito “para o Senhor”. Não importa o que seja, se é grande ou pequeno, deve ser feito tendo o Senhor como o “Patrão”. Se você é lavadeira, então lave cada camisa ou cada calça como se o próprio Jesus fosse vesti-las. Se você cozinha, faça a comida como se o Senhor fosse comê-la. Se você é um pintor de paredes, pinte a casa como se ela fosse a morada do Senhor. Se você varre a rua, limpe-a como se o Senhor fosse passar por ela. Se você é um aluno, estude a lição como se o professor fosse o Senhor Deus.

É isso que São Paulo quer nos ensinar quando diz que “tudo deve ser feito de bom coração, como para o Senhor, e não para os homens”. É claro que com essa “nova ótica”, você vai trabalhar da melhor maneira possível, com todo o  talento, cuidado, dedicação, competência, honestidade, pontualidade e perfeição, porque o fará para Deus. Isso santifica, isso muda a nossa vida; e é a vontade de Deus. Isso o fará feliz. Quando trabalhamos assim, toda a vida se torna “sagrada”, pois é vivida plenamente para Deus.

É importante também notar o que São Paulo diz a seguir: “Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor”. Que herança é essa? É a vida eterna, o céu, o prêmio por você ter sido fiel no pouco. Isso mostra que cada minuto do nosso labor, aqui na terra, vivido por amor a Deus, com “reta intenção” de agradá-Lo, transforma-se em semente de eternidade.

 

 

Felipe Aquino