ENTREVISTA
Deputado critica interesses econômicos pró-aborto
Luiz Bassuma: para deputado, a população de 1,4 bilhão de habitantes explica a potência econômica da China (Foto: Natinho Rodrigues)
[15 Janeiro 00h19min 2008]
O debate sobre a legalização do aborto saiu do campo da ética e ganhou ares econômicos. É o que defende o deputado federal Luiz Bassuma (PT-BA). Em entrevista ao O POVO, Bassuma, que preside a Frente Parlamentar em Defesa da Vida e é uma das principais vozes contrárias ao aborto no Brasil, defende como medida mais eficaz e barata educar e levar métodos contraceptivos às mulheres pobres. O deputado chegou a comparar o presidente Lula com o personagem bíblico Pôncio Pilatos por sua posição “em cima do muro”.
A discussão em torno do arquivamento ou aprovação do Projeto de Lei 1135, que legaliza o aborto no País, vem causando polêmica há anos no Brasil e deve ganhar novo fôlego em 2008. O presidente da Comissão de Seguridade Social e Família e relator da matéria, deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), está na iminência de apresentar parecer sobre a questão. Como estratégia para atrair mais adeptos à causa, Bassuma disse que vai apelar aos eleitores que votem em candidatos “pró-vida”.
OP – Por qual motivo o senhor é contra o aborto?
Luiz Bassuma – Anualmente, são 50 milhões de crianças mortas pelo aborto em todo o mundo. Essa é a maior causa de violência, disparado. Então, essa é a minha principal motivação política. Isso se chama geração de violência, que é morte, assassinato. O segundo ponto importante dessa nossa bandeira é que o mundo hoje dispõe de sete alternativas para a mulher que não quer ficar grávida. Porque o problema não é aborto. O problema é a gravidez indesejada. O aborto sempre é trauma. Que você está deixando de usar instrumentos baratíssimos e eficientíssimos. Esta é uma política míope, cega. Aí se monta uma tese maluca, que o governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, defendeu isso publicamente, que é uma tese de um colunista norte americano, que diz que “miséria e violência têm tudo a ver”, que tem de matar os pobres.
OP – Como o senhor vê a tese de que aborto é uma ferramenta de controle da natalidade?
Luiz Bassuma – O dinheiro vem de organismos internacionais para financiar grupos no Brasil que defendem o aborto. O ministro (da saúde, José Gomes) Temporão, no Programa Roda Viva, da TV Cultura, (em maio de 2007) foi perguntado pelo jornalista da revista Veja: “ministro, o Brasil tem tantos problemas na saúde pública. Uma pessoa pobre, às vezes não tem nem condições de fazer exame de sangue nos postos de saúde público.E o senhor está defendendo o aborto? Onde vai arranjar dinheiro para isso?”. A resposta dele… Depois ele viu que falou besteira: “se nós legalizarmos o aborto no Brasil, para isso não faltará dinheiro de fora”. Ele, ministro, reconhecendo que existem interesses econômicos, a indústria do aborto. É importante tornar-se um país despovoado. Porque país com gente significa potência. A China, por que você acha que ela virou a potência que é hoje? Porque ela tem 1,4 bilhão de habitantes.
OP – O senhor falou de métodos contraceptivos como solução, mas a maioria das mulheres não têm recursos nem informação para acessar a estes métodos. Como esta questão pode ser resolvida, na sua opinião?
Luiz Bassuma – Para as pessoas miseráveis, o Governo Federal está vendendo a pílula a preço de custo, a R$ 0,50. Comparando com o aborto mais barato do mundo, que é R$ 1 mil, olha a diferença. Não vou nem entrar na questão da morte. Além de matar a criança, economicamente é um despautério, é uma loucura, gastar bilhões quando se pode gastar milhares e resolver o problema. Resolver o problema da gravidez indesejada. Por que na classe média ninguém tem problemas? Porque as pessoas têm educação e têm filhos na hora que querem. Por que eu e minha mulher nunca usamos nada, nenhum comprimido, sabia? Nunca e temos três filhos. Natural, o controle natural, educação só. Quisemos ter três filhos e tivemos três filhos. Eu sou exceção, eu sei, mas isso é possível.
OP – A Igreja é o principal aliado nessa questão, mas também é contra alguns métodos contraceptivos, como a camisinha, por exemplo. Como se dá esse diálogo?
Luiz Bassuma – Se não tivesse a Igreja, para mim, já teriam legalizado o aborto há muito tempo. Eu não sou Papa, graças a Deus, nem padre. Para mim, tudo que puder evitar o aborto é válido. Eu entendo e compreendo e acho linda a posição da Igreja. Só que, na prática, ela acaba não ajudando no mal maior. O problema do mundo virou a banalização do sexo. Eu nunca disse para nenhum filho meu (sobre usar camisinha). Eu sempre orientei para responsabilidade que se tem de ter no sexo. Agora quando se faz campanha em massa “use a camisinha”, é como se dissesse “faça o que quiser”, “deite e role”.
OP – O presidente Lula disse ser contra o aborto, mas defendeu que se trata de uma questão de saúde púbica. Como o senhor vê esse posicionamento?
Luiz Bassuma – O meu partido abriu processo de expulsão lá na Bahia, está tramitando, para me expulsar do PT por causa dessa minha posição. O Lula está perdendo uma oportunidade extraordinária. O Lula está “ficando em cima do muro” nessa questão. O Lula sempre disse “eu sou contra o aborto”, sempre. Falou isso a vida toda. Mas deixa o seu Governo ser a favor do aborto. Como, se ele é o presidente? Um erro terrível. O Lula um dia ainda vai se arrepender muito disso. Ele não podia. Ele tinha de chamar o ministro (da saúde, José Gomes Temporão), e dizer “ministro, você veio aqui para cuidar da saúde e não da morte”. Sabe Pôncio Pilatos? É parecido com Pôncio Pilatos: “vocês querem matar o preso? Bom, vocês querem. Eu acho que não deveria matar, não. Mas se querem matar…” Não pode.
OP – Como o senhor pretende se articular este ano, então, para evitar que a lei seja aprovada?
Luiz Bassuma – Primeiro nós vamos intensificar o Encontro Brasileiro de Legisladores e Governantes pela Vida. Para intensificar essa coisa das eleições de 2008. Para eleger vereadores e prefeitos em todo o Brasil. Fazer com que o povo, a maioria contra o aborto, – 87% -, cobre de cada candidato, uma posição explícita sobre essa questão. Então, nós vamos cobrar que os 200 deputados pró-vida façam o que vou fazer no meu partido. Eu vou ser um chato de galocha para compor essa comissão (de Seguridade Social e Família). Vai ser difícil. O meu partido está querendo me expulsar, imagine. Eles vão me querer longe dessa comissão , onde vota essa matéria. Nosso pedido é para a população cearense votar em candidatos pró-vida.