TRANSPLANTES E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS
1- O QUE É TRANSPLANTE?
Transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na troca de um órgão (coração, rim, pulmão e outros) de um paciente doente (Receptor) por outro órgão normal de alguém que morreu (Doador). Os transplantes inter-vivos são realizados com menos freqüência
Os transplantes são realizados, somente, quando outras terapias já não dão mais resultados. Para alguns, portanto, é o único tratamento possível que possibilite continuar vivendo.
2- O QUE É DOAÇÃO DE ORGÃOS E TECIDOS?
A doação de órgãos é um ato pelo qual você manifesta a vontade de que, a partir do momento de sua morte, uma ou mais partes do seu corpo (órgãos ou tecidos), em condições de serem aproveitadas para transplante, possam ajudar outras pessoas.
3- QUEM PODE SER DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS?
Cerca de 1% de todas as pessoas que morrem são doadores em potencial. Entretanto, a doação pressupõe certas circunstâncias especiais que permitam a preservação do corpo para o adequado aproveitamento dos órgãos para doação.
É possível também a doação entre vivos no caso de órgãos duplos. É possível a doação entre parentes de órgãos como o Rim, por exemplo. No caso do Fígado, também é possível o transplante intervivos. Neste caso apenas uma parte do Fígado do doador é transplantado para o receptor. Este tipo de transplante é possível por causa da particular qualidade do Fígado de se regenerar, voltando ao tamanho normal em dois ou três meses. No caso da doação inter-vivos, é necessária uma autorização especial e diferente do caso de doador cadáver.
Não existe limite de idade para a doação de córneas. Para os demais órgãos, a idade e história médica são consideradas.
FONTE www.ufpe.br/utihc/transplante.htm
4- QUEM NÃO PODE SER DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS?
Não podem ser considerados doadores pessoas portadoras de doenças infecciosas incuráveis, câncer ou doenças que pela sua evolução tenham comprometido o estado do órgão. Os portadores de neoplasias primárias do sistema nervoso central podem ser doadores de órgãos.
Também não podem ser doadores: pessoas sem documentos de identidade e menores de 21 anos sem a expressa autorização dos responsáveis.
5- QUANDO PODEMOS DOAR?
A doação de órgãos como Rim e parte do Fígado pode ser feita em vida.
Mas em geral nos tornamos doadores quando ocorre a MORTE ENCEFÁLICA. Tipicamente são pessoas que sofreram um acidente que provocou um dano na cabeça (acidente com carro, moto, quedas, etc).
6- QUERO SER DOADOR(A), A MINHA RELIGIÃO PERMITE?
Todas as religiões encorajam a doação de órgãos e tecidos como uma atitude de preservação da vida e um ato caridoso de amor ao próximo. A maioria das religiões, contudo, consideram este ato uma decisão individual de seus seguidores. As Testemunhas de Jeová, para quem a transfusão de sangue, por exemplo, não é admissível, a doação de órgãos e tecidos “limpas” de sangue é permitida.
7- SOU DOADOR(A), MAS QUANDO CHEGUEI AO HOSPITAL NÃO ENCONTRARAM MEUS DOCUMENTOS NEM OS MEUS FAMILIARES. OS MEUS ÓRGÃOS SERÃO RETIRADOS PARA TRANSPLANTES?
Não. Pessoas sem identidade, indigentes e menores de 21 anos sem autorização dos responsáveis, não são consideradas doadoras.
8- O QUE É MORTE ENCEFÁLICA?
Morte encefálica significa a morte da pessoa.
É uma lesão irrecuperável do cérebro após traumatismo craniano grave, tumor intracraniano ou derrame cerebral.
É a interrupção definitiva e irreversível de todas as atividades cerebrais. Como o cérebro comanda todas as atividades do corpo, quando morre, os demais órgãos e tecidos também morrem. Alguns resistem mais tempo, como as córneas e a pele. Outros, como o coração, pulmão, rim e fígado sobrevivem por muito pouco tempo.
A morte encefálica pode ser claramente diagnosticada e documentada através do exame da circulação cerebral por técnicas extremamente seguras, embora existam opiniões contrárias a esta afirmativa.
Por algum tempo, as condições de circulação sangüínea e de respiração da pessoa acidentada poderão ser mantidas por meios artificiais, ou seja, atendimento intensivo (em UTI, com medicamentos que aumentam a pressão arterial, respiradores artificiais, etc), até que seja viabilizada a remoção dos órgãos para transplante.
É importante que não se confunda morte encefálica com COMA. O estado de coma é um processo reversível. A morte encefálica não. Do ponto de vista médico e legal, o paciente em coma está vivo. Para que a morte encefálica seja confirmada é necessário o diagnóstico de, pelo menos, dois médicos, sendo um deles neurologista. Estes médicos não podem fazer parte da equipe que realizam o transplante. Os exames complementares, ou seja, além do exame clínico, para confirmar a morte encefálica, que inclui eletroencefalograma e arteriografia cerebral, são realizados, pelo menos duas vezes, com intervalo de seis horas. Só então a morte encefálica pode ser confirmada.
9- A MORTE ENCEFÁLICA PODE SER DIAGNOSTICADA EM QUALQUER HOSPITAL?
Em princípio sim, desde que o hospital conte em seu quadro de profissionais com um neurologista e os equipamentos necessários para a realização dos exames. Contudo, no Brasil as coisas ainda não são assim. Mas, excepcionalmente, ao suspeitar-se de ocorrência de morte encefálica, uma equipe e equipamentos podem ser deslocados de um hospital para outro.
10- QUANTO TEMPO APÓS A MORTE ENCEFÁLICA PODE-SE ESPERAR PARA O TRANSPLANTE?
O Coração e pulmão são os órgão que menos tempo podem esperar. O intervalo máximo entre a retirada e a doação não deve exceder quatro horas. O ideal é que as duas cirurgias ocorram simultaneamente. O Fígado resiste até 24 horas fora do organismo. O Rim é bastante resistente, se comparado a outros. A espera pode ser de 24 a 48 horas. O Pâncreas, como no caso do coração e do pulmão, as cirurgias de retirada e doação, tem de ser feitas quase que simultaneamente. A Córnea pode permanecer até sete dias fora do organismo, desde que mantida em condições apropriadas de conservação.
11- QUEM RETIRA OS ÓRGÃOS DE UM DOADOR?
Desde que haja um receptor compatível, a retirada dos órgãos para transplante é realizada em um centro cirúrgico, por uma equipe de cirurgiões com treinamento específico para este tipo de ocorrência. Após o procedimento o corpo é devidamente recomposto e liberado para os familiares.
12- COMO FUNCIONA O SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÓRGÃOS?
Se existe um doador em potencial (vítima de acidente com traumatismo craniano, derrame cerebral, etc..) a função vital dos órgãos deve ser mantida pelo hospital. É realizado o diagnóstico de morte encefálica e a Central de Transplantes é notificada. A Central localiza e entra em entendimento com a família do doador e pede o seu consentimento mesmo que a pessoa tenha manifestado em vida o desejo de doar. Após isso, o doador é submetido a uma bateria de exames para verificar se não possui doenças que possam comprometer o tranplante (hepatite, AIDS, etc.,,) Com tudo OK, a Central de Transplantes faz um cruzamento de compatibilidade com os pacientes em lista de espera, identifica um receptor e aciona as equipes de captação e de transplante.
13- QUEM SÃO BENEFICIADOS COM OS TRANSPLANTES?
Atualmente milhares de pessoas, inclusive crianças, contraem doenças cujo único tratamento é a implantação de um órgão novo. A espera por um doador, que as vezes não aparece, é angustiante. A lista de candidatos a um transplante de pulmão, por exemplo, é renovada a cada ano porque, simplesmente, a maioria dos candidatos morre sem conseguir um doador.
14- QUEM RECEBERÁ OS ÓRGÃOS DOADOS?
Os receptores são escolhidos com base em testes laboratoriais que confirmam a compatibilidade entre o doador e o receptor. Quando existe mais de um receptor compatível, a decisão de quem receberá, passa por critérios tais como tempo de espera e urgência do procedimento. Em princípio, a família do doador não escolhe o receptor. Na escolha do receptor, os médicos, o candidato a transplante e sua família levam em conta fundamentalmente os seguintes aspectos para considerar o transplante: Todas as terapias foram consideradas ou excluídas? O paciente não sobreviverá sem o transplante? O candidato a receptor não tem outros problemas de saúde que inviabilizem o transplante? O candidato tem condições para assumir um estilo de vida que inclui o uso contínuo de medicamentos e freqüentes exames laboratoriais/hospitalares após o transplante?
15- TENHO UM FAMILIAR EM LISTA DE ESPERA PARA UM TRANSPLANTE DE CORAÇÃO. SOU TOTALMENTE COMPATÍVEL COM ELE. SE EU MORRER O MEU CORAÇÃO PODE SER DOADO PARA ELE?
Em princípio não. Nem o doador, nem seus familiares, podem escolher o receptor. A não ser no caso de órgãos duplos e doação em vida. Caso contrário, o receptor será sempre indicado pela Central de Transplantes com base em uma série de critérios que incluem: 1) compatibilidade sangüínea; 2) histocompatibilidade; 3) peso e tamanho do órgão. Encontrado(s) o(s) paciente(s) que apresentam o perfil adequado para receber o órgão, será escolhido aquele em estado mais grave. Este poderá ser (ou não) o seu familiar. Em resumo: nós não podemos escolher quem receberá os órgãos de um familiar com morte encefálica. Isso evita a comercialização de órgãos.
16- TENHO UM FAMILIAR ESPERANDO UM TRANSPLANTE. MATEMATICAMENTE FALANDO, QUAL A CHANCE DELE ENCONTRAR UM DOADOR?
É muito difícil responder a esta questão do ponto de vista de probabilidade. Mas considere inicialmente que ele seja do grupo sangüíneo A+. Na população brasileira, a chance de encontrar outro indivíduo A+ é algo em torno de 35%, ou seja, 35 em 100 ou 0,35. Mas o doador e o receptor devem ser também compatíveis em termos de tecido. Para a histocompatibilidade a chance de encontrar indivíduos semelhantes é menor. A probalidade de que você tenha um irmão histocompatível é de 25% (0,25) mas entre não parentes esta chance diminui para um valor entre 1 em 10.000 e 1 em 100.000 (ou entre 0,0001 e 0,00001). Para os matemáticos, neste caso, a probabilidade de se encontrar um indivíduo compatível (considerando a maior chance) para o grupo sangüíneo e para tecidos é o produto,
0,25 x 0,0001 x ? x ? = 0,00035
Ou de 3 a 4 em 100.000. Mas não é só isso. Considere, ainda, que o doador dever ser uma pessoa cujo órgão a ser doador tenha peso e tamanho semelhante ao do receptor e tenha sofrido um acidente cerebral e tenha boas condições de saúde e tenha chegado vivo a um hospital e cuja equipe médica tenha tido a boa vontade de entrar em contato com uma Central de Transplante. Estas variáveis são de difícil mensuração. Elas são representadas pelas interrogações acima e são números menores do que um. Logo, matematicamente falando, a chance de alguém encontrar um doador plenamente compatível é pequena. Contudo, existe e muitas pessoas recebem um órgão por transplante, vive muito tempo para a sua felicidade e a de seus familiares. Agora pense no seguinte: se você opta em ser NÃO DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS, você realmente está contribuindo para diminuir a chance de sobrevivência de outra pessoa e a felicidade de muitos.
16- AS PESSOAS TÊM VIDA NORMAL APÓS UM TRANSPLANTE?
Após o transplante, os receptores devem tomar diversos medicamentos. Os mais importantes são para evitar a rejeição. Estes medicamentos, que devem ser usados pelo resto da vida, podem causar uma série de efeitos não desejáveis. Para combater estes paraefeitos outras drogas devem ser administradas. As estatísticas mundiais mostram que a maioria (mais de 80%) das pessoas que receberam um coração por transplante, por exemplo, retornam as suas atividades anteriores. Alguns praticam esportes, existindo até federações de transplantados.
17- QUAL O RISCO DOS TRANSPLANTES?
Existe os riscos inerentes a uma cirurgia de grande porte em si. Superada esta fase, os principais problemas após o transplante de órgão são infecção e REJEIÇÃO. Para prevenir estes efeitos a pessoa usa medicamentos que debilitam o sistema imunológico. Por esta razão, estão mais sujeitos a infecções e a outras doenças “oportunistas”.
18- O QUE SIGNIFICA REJEIÇÃO?
O nosso sistema imunológico nos protege de infecções em geral. As células deste sistema percorrem cada parte de nosso corpo procurando e conferindo se algo difere do que elas estão acostumadas a encontrar. Estas células identificam um órgão transplantado como sendo algo diferente do resto do corpo e ameaçam destruí-lo. Numa linguagem figurada, isto é REJEIÇÃO. É, ao lado da DISPONIBILIDADE DE DOADORES, uma das grandes barreiras ao sucesso dos programas de transplantes. Em 1983, a barreira da REJEIÇÃO foi parcialmente superada com o advento de uma poderosa droga – a Ciclosporina – que, combinada com outras, inibe as células do sistema imunológico na sua tentativa de destruir o órgão transplantado. Como a rejeição pode ocorrer em qualquer tempo após o transplante, a maioria dos transplantados usa medicamentos imunossupressores pelo o resto de suas vidas. Os principais medicamentos utilizados são aqueles do grupo da Ciclosporina, Azatioprina e da Prednisona e são administrados de forma balanceada pelos médicos para cada caso. A rejeição ocorre na maioria dos casos de transplantes e pode ser mais facilmente controlada quanto maior for a compatibilidade entre o doador e o receptor. Em primeiro lugar, eles devem ter o mesmo tipo sangüíneo, ou seja, os mesmos fatores do sistema ABO e Rh. Em segundo, devem ter, ainda, a maior semelhança possível em relação ao sistema genético HLA. No momento do transplante, o objetivo da Central de Transplante é compatibilizar os doadores e receptores para o HLA, procurando os idênticos ou os mais próximos possíveis, em especial quanto estes não tem qualquer grau de parentesco. É uma questão de sorte: a chance de se encontrar um doador compatível varia entre um para 10 mil e um para 100 mil entre pessoas não aparentadas.
19- QUEM FAZ TRANSPLANTE NO BRASIL?
Segundo o Ministério da Saúde, existe no Brasil cerca de 117 instituições cadastradas para realizar transplante de órgãos: Rim (111), Medula óssea (13), Fígado (6), Coração (9) e Pulmão (3). Deste total, 40 estão localizados na Região Sul (PR, SC, RS) dos quais, 20 são Hospitais do Rio Grande do Sul.
20- QUEM PAGA A CONTA DOS TRANSPLANTES?
Em geral, os transplantes são pagos pelo Serviço Único de Saúde (SUS). A maioria dos planos privados de saúde não cobre este tipo de atendimento. À propósito, a grande maioria destes planos somente funcionam adequadamente enquanto você não precisa deles. No ano de 1996, foram realizados pelo SUS, segundo o Ministério da Saúde, 1954 transplantes de órgãos: Rim (1501), Coração (65), Fígado (115), Pulmão (6), Medula óssea (267), além de 1551 de Córnea. No primeiro quadrimestre de 1997 foram realizados 569 transplantes de órgãos no Brasil, sendo 420 de Rim, 15 de Coração, 40 de Fígado, 01 de Pulmão e 93 de Medula óssea.