Namorar é tempo de quê?

Namorar é tempo de
quê?

Tempo de brigar e
reconciliar-se e de não representar

O namoro é uma experiência única e vivamente
enriquecedora. Com ele muitos se empolgam e não poucos o procuram com ansiedade
e o esperam com inúmeras expectativas. Ele ajuda o ser a colocar para fora o
que tem de melhor, também o ensinando a bem acolher o que de bom o outro pode
oferecer. Enfim, tal relacionamento se constitui como experiência singular e
rica de ensinamento. Contudo, ele pode também se tornar traumático e confuso se
não for experienciado com o devido tempero e maturidade.

Maturidade para ganhar e perder, para dar e
receber… Quem entra em um namoro querendo somente ganhar já começou a perder.
Esse relacionamento não poderá, de fato, acontecer se desde o seu início nele
não existir um sentido de entrega e doação em favor do bem do outro. Sem o
respeito, que nos faz compreender que o outro não é um “poço
encantado” onde satisfazemos todos os nossos prazeres egoístas, o namoro
não poderá se solidificar, ficando assim impedido de lançar as bases para um
relacionamento estável – feliz – e duradouro.

O namoro é, com exatidão, um tempo de
conhecimento e interação mútua. E é necessário que seja assim. É tempo de
crises, de deparar-se com as diferenças que constituem “um outro” que
não sou eu, e que por isso não pode ser por mim manipulado (alienado). Quem não
emprega tempo e energias neste processo de conhecer, deixando-se conhecer,
acabará colocando o futuro do relacionamento na rota do fracasso e de uma ampla
“irrealização”.

Namoro sem crise, sem
conhecimento e confronto de diferenças tende a se tornar – ainda que
disfarçadamente – um esconderijo de múltiplas formas de superficialidade e
descompromisso
. Quem não faz a
experiência de realmente conhecer a quem namora no seu melhor e pior –
encantando-se e decepcionando-se – correrá o sério risco de não suportar a
dureza manifestada pelo real, depois do casamento já concretizado.

Quem, no tempo de namoro, conhece somente o
“corpo” (do outro) e não a “pessoa” por inteiro poderá, em
qualquer alvorecer, deparar-se com a infeliz descoberta de que se casou com um
(a) desconhecido.

Namoro é o momento de entrar em crise e dela juntos sair. É tempo de brigar e
reconciliar-se, é tempo de não representar. Quem assume esse relacionamento
acreditando “ser de vidro” – não resistente ao impacto do cotidiano –
não entendeu o que significa amar e ser amado e quais são as exigências que
brotam deste ofício.

Confronto de diferenças não é sinônimo de
desamor, mas de autenticidade. Estacionar nas diferenças, permitindo que estas
ditem definitivamente as regras da relação é, sim, o sinal do desamor em estado
de constante vitória. Este encontro – que em momentos “desencontra” –
oferecido pelo namoro é um momento único e determinante para o futuro do casal
e da família. Por isso, precisa ser bem vivido e digerido com respeito e autodoação
que desafiem a atual lógica utilitarista, que cada vez mais fabrica centenas de
uniões fragmentadas e inexistentes (apenas aparentes).

Com as bases solidificadas em uma madura
compreensão do que seja o amor – protaganismo de identidades e não ensaio de
representações… – o namoro poderá crescer e se tornar, de fato, o fundamento
para o futuro de uma família verdadeiramente feliz e centrada no essencial da
vida.



Diácono Adriano Zandoná
verso.zandona@gmail.com