Dom Aloísio Roque Oppermann Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)
Vige entre nós católicos a convicção de que não existe mudança de opinião por parte daqueles que se apegaram a convicções religiosas dissidentes. Talvez estejamos aplicando mal o que dizem as Escrituras: “É impossível que (os maus) se disponham ao arrependimento” (Hb 6,6). Imaginando que a teimosia da opinião dos separados provenha unicamente de seu desejo de auto-realização e de incapacidade de obedecer. Isso nem sempre é o caso. Pode ser má compreensão, pode até ser convicção equivocada, como mesmo descoberta de falhas verdadeiras na Igreja-tronco. O “entre vós não deve ser assim” que Jesus nos deixou, muitas vezes se converte em rispidez, ódio e separação. Se depender das nossas más tendências humanas – influenciadas pelo espírito do mal – as separações continuarão pelos séculos dos séculos. Mas felizmente, o Espírito Divino, que habita em nossos corações, com gemidos inenarráveis, nos quer levar à união, à amizade, ao perdão mútuo e à correção.
Não deve ser diferente ao encararmos os 500 anos de separação entre os cristãos do ocidente, agora em 2018. Para os menos avisados poderia haver a interpretação de “querer festejar um erro”. Isso seria como introduzir mais material explosivo. Para nossa alegria, a Federação Luterana Mundial teve um profícuo encontro com o Papa Francisco neste mês de outubro/2013. Nele transpareceu, a partir de ambos os lados, o desejo de expressar, neste quinto centenário, um pedido recíproco de perdão pelos males que nos impusemos mutuamente. Também seria a oportunidade para valorizar a saudade, que todos temos, pela plena unidade e comunhão. Como a união entre todos não é, sabidamente, fruto de nosso esforço, mas é dom do Espírito Santo, devemos praticar o chamado ecumenismo espiritual. Este consiste essencialmente na oração. Juntemo-nos à oração de nosso Mestre e Senhor : “Pai, que eles sejam um, assim como nós” (Jo 17, 11).