Nesta Quarta-feira de Cinzas, tem início o tempo litúrgico da Quaresma e no Brasil, também a Campanha da Fraternidade 2020. O tema deste ano é Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso, e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34).
O Secretário Executivo para Campanhas da CNBB, Padre Patriky Samuel Batista, explica que as campanhas são promovidas e propostas anualmente pela entidade como caminho de conversão quaresmal. Quem escolhe o tema e o lema de cada ano são os bispos, a partir das sugestões recebidas dos membros do Seminário Nacional de Formação e Capacitação para Agentes Multiplicadores da Campanha da Fraternidade nos 18 regionais da CNBB.
“A Quaresma se torna, portanto, um tempo forte de conscientização. A partir da Campanha, deve haver uma reflexão capaz de iniciar processos de transformação na vida das pessoas e da comunidade. A Campanha da Fraternidade é um grande programa quaresmal pois é a escuta da Palavra que converte o coração e só um coração convertido é capaz de dar uma verdadeira atenção ao outro. A campanha está ligada a um dos aspectos da Quaresma, que é o aspecto da esmola, da caridade, da solidariedade.”
Vida como dom
O sacerdote lembra que todas as campanhas tratam indiretamente do tema da vida, mas que, neste ano, o assunto será abordado de forma mais específica, devido ao cenário que a sociedade vive atualmente.
“Estamos numa sociedade de Caim, em que já não se reconhece o outro mais como irmão. A vida tem sido banalizada em todas as suas formas e dimensões. Em relação à vida humana como dom, a situação da depressão, do suicídio, da auto-mutilação. Ecologicamente falando, o uso indiscriminado de agrotóxicos, o crescente conflito que há no campo, situação de pessoas desaparecidas, migrantes, o aborto. Essa é a primeira campanha da fraternidade que vai tratar de forma específica aquelas situações que oPapa Francisco chama de periferias existenciais”, diz o padre.
Para a construção da Campanha da Fraternidade de 2020, também foi levantado o fato da comemoração dos 25 anos da Evangelium Vitae de São João Paulo II. O documento afirma que a vida deve ser defendida desde a sua fecundação, passando pelo fim natural e até a sua plenitude.
Compromisso
Padre Patriky lembra que esta plenitude está também na qualidade de vida de cada um dos indivíduos. A maior reflexão da campanha deste ano está justamente no se preocupar com o outro e cuidar do outro.
“O lema é a passagem do Bom Samaritano, exemplo para nós. Como ele, devemos ser capazes de interromper a rotina, porque é isso que ele faz. Ele tinha o seu trajeto. A parábola diz que ele estava em viagem, só que algo faz ele parar: é a situação daquele que está vítima de violência, caído à beira do caminho. E o que é que nos tem feito parar como pessoa, como Igreja, como cristãos? O que tem nos feito romper nossa rotina pra cuidar? A indignação que o samaritano tem com esse mundo que deixa pessoas vítimas de violência à beira do caminho não é revelada correndo atrás do sacerdote, do levita, para lembrá-los da sua obrigação, mas abrindo mão da sua montaria, e ele mesmo se coloca a cuidar. Então, de quem a gente tem cuidado? E também pequenas ações: tenho cuidado das minhas relações, do meu próximo, da minha saúde?”
Objetivos da Campanha
O texto-base da Campanha deste ano apresenta o objetivo geral, que é conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como Dom e Compromisso, que se traduz nessas relações de mútuo cuidado: entre pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e também do planeta, a Casa Comum.
Dentre os objetivos específicos, estão apresentar o sentido da vida proposto por Jesus nos evangelhos; propor a compaixão, a ternura e o cuidado como exigências fundamentais da vida para as relações sociais mais humanas; fortalecer a Cultura do Encontro, da fraternidade e a revolução do cuidado como caminho de superação da indiferença e da violência.
A Campanha da Fraternidade vai até o final da Quaresma, mas padre Patriky reforça que os cristãos são chamados a viver essa inspiração e esse compromisso para além deste tempo litúrgico.
“A reflexão maior é feita na Quaresma, mas a defesa da vida e a promoção do outro devem estar na pauta do dia sempre. Meu encontro pessoal com o Cristo me faz transbordar em relação ao meu próximo. Também a Igreja no Brasil trabalhará o tema ao longo do ano. O grande gesto concreto da Quaresma é a coleta da solidariedade, que acontece no Domingo de Ramos. Sessenta por cento desses recursos ficam nas dioceses, e quarenta vêm para a CNBB, para que a gente possa apoiar projetos sociais ligados ao tema da Campanha da Fraternidade”.